segunda-feira, 14 de maio de 2018

Nem tudo que reluz é ouro e nem todo muro é faculdade - Tião Martins


Nem tudo que reluz é ouro e nem todo muro é faculdade


* Por Tião Martins


O cenário pode até estar diferente devido a outras razões, mas tenho ouvido relatos inquietantes de alguns antigos colegas em duas faculdades respeitáveis: a velhinha Casa de Afonso Pena, em Belo Horizonte, e a Nacional de Direito, no Rio.

Ambas recebiam, naquele tempo, muitos alunos que jamais pretenderam exercer a profissão. Esses “estudantes” escolhiam a escola só para usar o título de “adevogados”, como diziam alguns deles, vindos do interior.

Em ambas havia também muitas moças que, na época, só escolheram o Direito por desconfiarem que ainda estavam aprendendo o beabá universitário.

Como o Direito só perdia para a Medicina, em matéria de prestígio, os cadáveres daquele tempo geravam tremores no meigo coração das meninas, muitas delas interessadas só em casamentos luxuosos.

Esta conversa toda é para registrar o que acontece hoje na cabeça dos futuros advogados cariocas e mineiros, diante do espetáculo quase diário que acompanhamos no Supremo Tribunal Federal – o tão falado STF.

Comparecer a uma sessão do Supremo, antigamente, era coisa de velhinhos: os intocáveis mestres nacionais do Direito, tão ou mais respeitados que os times do Vasco da Gama, Botafogo ou Fluminense.

Decisões tomadas pelo STF eram tão importantes e indiscutíveis quanto um gol de Garrincha, um drible do Didi ou um lance belíssimo do Newton Santos.

E o Senado Federal, vizinho do Supremo, também recebia algumas das cabeças políticas mais respeitadas do País, nenhuma delas tão pipoqueira quanto as de hoje.

Com a permissão e boa vontade dos atuais alunos, pode-se dizer que ir ao Supremo exigia a audácia de um Arcebispo e jamais a tolice trêmula de um padreco recém-nascido no fundo da Serra da Mantiqueira ou criado em escolinhas no fundão de Pernambuco ou Ceará.

Tudo isso era motivo para que os jovens estudantes cariocas e mineiros pensassem uma, dez, quinze ou mil vezes se valia a pena enfrentar as feras, tanto nas faculdades quanto em futuros embates no Supremo, onde dormem hoje cidadãos que não conseguem agradar até os desagradáveis.

Comenta-se, no mundo que produz hoje os futuros juízes, a necessidade de profunda revisão de métodos e conteúdos. E tudo leva a crer que essa inquietude só dará resultados daqui a alguns anos.

Escapei dessa comédia há muitos anos, para mergulhar na imprensa, até que os militares plantassem aqui sua cópia de Franco (o destruidor da Espanha e não a moeda dos europeus).

Espera-se que as atuais garotas e seus garotos, assim como os mestres deles, cuidem do futuro melhor do que nós. Faculdades nós temos, até demais. Direitas, elegantezinhas e, algumas, bem tortas.

Resta saber quem vai derrubar a cerca.


* Jornalista. Assina coluna diária no jornal “Hoje em Dia” de Belo Horizonte


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