Tipos inesquecíveis
* Por Pedro J. Bondaczuk
A
revista "Seleções", muito popular no País nos anos 50 e
60, tinha, entre suas reportagens, artigos e inúmeras seções, uma
que eu apreciava particularmente. Chamava-se "Meu tipo
inesquecível". Estampava depoimentos de personalidades
norte-americanas a respeito de grandes amizades. Ou de pessoas
marcantes, heróicas, extraordinárias, raras, dessas que mesmo não
conhecendo pessoalmente, não conseguimos deixar de nos sentir
amigos.
Eram
pais sábios e compreensivos, avós maravilhosos, irmãos devotados,
professores abnegados, médicos desprendidos e essa espécie de seres
humanos cada vez mais rara, e por isso imprescindível, cuja vida é
dedicada a tornar a existência de todos mais fácil e melhor.
O
escritor Mário da Silva Brito escreveu, em uma de suas reflexões
publicadas no "Suplemento Literário de O Estado de São
Paulo", pelos idos do início dos anos 60: "Nunca fui eu
só, ou só eu. Mas todos os outros. Os antepassados, os que me
rodeiam, os que pertencem ao meu tempo. Os que amo e até os
desconhecidos. Estou feito de pedaços. Sou uma soma de múltiplas
parcelas humanas. Consigo somar até‚ quantidades heterogêneas".
Eu
também, Mário. Sou uma colcha de retalhos de ideias, conceitos,
palavras, emoções e impressões. E você está incorporado em mim,
como um pedaço de minha personalidade, mesmo que jamais (para
infelicidade minha) nossos caminhos tivessem se cruzado.
Sou
um pouco da minha primeira professorinha, dona Helena, quando
internado no Lar Escola São Francisco, em São Paulo, que me abriu o
mundo do saber. Um grande pedaço da dona Ester Freeman, que
vislumbrou, no menino deslumbrado com as primeiras letras, um poeta
(bondade dela) e me incentivou a continuar escrevendo. Uma parcela
imensa dos meus mestres do Ginásio Adventista Campineiro de
Hortolândia (atual Instituto Adventista São Paulo), do Colégio
Cesário Motta, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Incorporei
em minha estrutura mental, em meu acervo de experiências e emoções,
filósofos, poetas, escritores e compositores que viveram anos,
séculos, até milênios antes de mim.
Homero,
Píndaro,Virgílio,Cícero, Sêneca, Aristóteles, Sócrates,
Heráclito, Santo Agostinho, Santo Tomás, São Francisco de Assis...
Beethoven, Chopin, Tchaikowsky, Wagner,
Schubert... Eça de Queiroz, Júlio Diniz, Alexandre
Herculano, Fernando Pessoa...
Balzac,
Hugo, Verlaine, Mauriac, Maurois... Morin, Scott Fitzgerald, Ezra
Pound, Hemingway, John dos Passos, James Joyce... Octávio
Paz, Jorge Luís Borges, Mário Vargas Llosa, Gabriel Garcia
Marquez... Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Érico
Veríssimo...
Drummond,
Bandeira, Quintana, Mário de Andrade, Cecília Meirelles... Benedito
Sampaio, Mauro Sampaio, Uassyr Martinelli, Maurício de Moraes...
Retalhos... Meros retalhos, que compõem um todo, complexo, às vezes
complicado, quase sempre contraditório e polêmico.
Meu
avô paterno, Hilarion, está entre estes meus tipos inesquecíveis.
Meu pai é outro. Meus companheiros de república, em Barão Geraldo,
que se transformaram nos irmãos homens que jamais tive... Meus
quatro filhos... Meus milhares de amigos, em especial os que consegui
no jornalismo...Meus colegas de rádio...Meus fantasmas
interiores...Meus...São tantos os meus tipos inesquecíveis, que
muitos deles até esqueci (por culpa exclusiva da fragilidade da
memória).
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Entre os nomes notáveis, apenas um do gênero feminino. Postagem do Dia Internacional da Mulher. Temos de nos esforçar mais. Vitimismo? Mimimi? Essas considerações não alteram os números. Afora esse detalhe, gostei da sua lista.
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