quarta-feira, 14 de março de 2018

Sobre a morte - Emanuel Medeiros Vieira


Sobre a morte

* Por Emanuel Medeiros Vieira

"Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais"(Rubem Alves - a quem agradeço algumas citações neste texto, como a de Cecília Meireles).

Quantos já escreveram o mesmo: já tive medo da morte. Sinto-me assim. Posso ter medo da dor, e sei como ela chega, não é em um barco perfumado. A dor maior? Não sei explicar. Como um serrote - indo e voltando, repito, indo e voltando (uma dor indescritível) na barriga, exatamente nos tumores, alojados no pâncreas e no fígado e, quem sabe, já em outros lugares. Indo e vindo. O perfume não é esse.

É de suor, morfina, veias furadas - e aquele cheiro de hospital.
E a morte na soleira da porta. Olha-te - não cinicamente - mas como o olhar de uma vencedora, que sabe que - NO FINAL - ganha sempre. Também não tenho medo da morte.
"O que sinto é uma enorme tristeza" (do mesmo Rubem Alves). Ele lembra Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.”

A vida é tão boa! Não quero ir embora…"

Cecília Meireles dizia: “E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega… O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias… Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…”

(Salvador, Bairro da Graça, março de 2018)

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário