quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Um doce vilão!


* Por Maria Eugênia Amaral


Senta que lá vem história... Crianças que nasceram no século passado aqui pelas bandas do Centro-Oeste corriam muito e por toda parte ─ em quintais, em ruas, em trilhas e nos recreios. E precisavam de um bom combustível para tanta atividade. Usando-me confortavelmente como parâmetro: eu era movida a rapaduras, bolos e pães caseiros. E era, inacreditavelmente, magra.

Atualmente as crianças não correm tanto. Há pouco espaço entre o sofá e a TV. Hoje, quem anda pra valer são seus avatares em jogos online. Como correm para a caça de pokémons! E o combustível também mudou drasticamente: bytes para o avatar; biscoitos, chocolates e refrigerantes para quem, sentado, manipula o celular. Pouca atividade física e muita guloseima industrializada. Agora basta somar os dois para obter o resultado: obesidade. Foi-se o tempo em que criança rechonchuda era bonitinha... E a história começa a preocupar, com o considerável aumento do risco de hipertensão arterial infantil (que até recentemente era coisa exclusiva de adultos).

Alarmantemente, avós, tias e mães (e o lado masculino da família também) colocam refrigerantes em mamadeiras. Já presenciei várias vezes esse ato insano ─ ou talvez ingênuo, por simples desinformação. No Brasil algumas mudanças são mais lentas do que outras. Mas, quem sabe, não copiaremos rapidinho os novos hábitos que estão sendo adotados lá fora? Em 22 de agosto de 2016 a Associação Americana do Coração (American Heart Association, nos EUA) emitiu uma nota recomendando enfaticamente que “bebês e crianças com menos de dois anos não devem comer nenhum alimento com adição de açúcar”. Veja bem: NENHUM AÇÚCAR ADICIONADO. Ou seja, alimentos adocicados pela própria natureza são permitidos, como frutas. E a Associação vai além: “Já as crianças maiores devem ingerir açúcar adicionado somente em uma quantidade equivalente a, no máximo, 100 calorias por dia”. Ou seja, para maiores de dois anos de idade, o limite está em torno de 25 gramas de açúcar diários (menos de seis colheres de chá). Uau! Já vi muito achocolatado familiar por aqui com muito mais do que isso em cada porção.

As recomendações frisam também que tais restrições são cruciais nos primeiros anos de vida: “Essa idade é particularmente importante porque é quando as crianças desenvolvem suas preferências de sabores”.

Bom senso à mesa. Vida saudável, quem diria, não precisa ─ e nem deve ─ ser tão doce!



* Professora.

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