sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Totens

* Por Eduardo Bomfim

Segundo informações da Bloomberg, o restrito clube de bilionários globais acrescentou às suas fortunas em 2017 mais de 1 trilhão de dólares, perfazendo um total de 5,3 trilhões em 26 de dezembro, um aumento de 20,4% em relação à mesma data do ano passado, sendo os dos setores de tecnologia os que mais enriqueceram.

No mesmo período as desigualdades sociais entre os povos e nações aumentaram substancialmente. Trata-se de um retrato irretocável dos tempos contemporâneos, do capital financeiro mundial, onde esses indivíduos especulam suas fortunas.

Essa estratosférica acumulação de capital adquiriu tal dimensão a partir da virada do 2º milênio com a total desregulação dos fluxos financeiros, beneficiados com o fim da chamada Guerra Fria desde os idos dos anos 80 do século XX.

O domínio do Mercado ultrapassa o aspecto econômico, vai ao campo das ideias, exercendo implacável ditadura do pensamento único onde a agenda dominante, difundida através da grande mídia e redes sociais, é uniforme para quase todos os Países, à exceção dos que reconfiguraram seus paradigmas para o novo milênio como, por exemplo, a China e a Rússia, destacadamente.

No mundo ocidental esse processo da financeirização global promoveu o aumento das desigualdades econômicas e sociais em escala abissal, além de uma perplexidade cultural, política, e uma desorientação geral com o desmoronamento de conceitos que soçobraram com a Velha Ordem.

Em seu lugar o Mercado impôs, sem “ditaduras”, por formas “democráticas”, critérios ideológicos e comportamentais que facilitam sua estratégia hegemônica.


O mundo ocidental viu-se em um shopping ideológico, com prateleiras enfileiradas de causas que o “consumidor” tem parachamar de suas, como totens de espuma e recicláveis, ausentes de sentido comum, universal ou nacional.

Uma sensação de orfandade em literalmente todas as direções, a emergência de fundamentalismos, intolerâncias, a primazia do “ativista” emocional pseudorradical contra o esforço analítico, o utilitarismo como regra. Mitos são erguidos e derrubados no volátil tempo digital.

O Brasil encontra-se enredado nessa arapuca, até pela sua condição geopolítica, e dela só conseguirá sair através da luta política democrática unitária. E um projeto estratégico de desenvolvimento adequado às condições do novo milênio.


* Advogado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário