Impedir
a antirreforma da Previdência
* Por
Frei Betto
Graças
à efetiva comprovação de que governo é como feijão, só funciona
na panela de pressão, a mobilização popular impediu o Congresso
Nacional de aprovar a antirreforma da Previdência proposta por
Temer. Agora é hora de esclarecer a opinião pública e pressionar
os deputados federais para que, em fevereiro, engavetem de vez essa
proposta injusta.
Vamos
aos números. O governo mente ao afirmar que a Previdência é
deficitária, ou seja, paga mais do que recebe. A CPI da Previdência
no Senado comprovou o contrário. Entre 2000 e 2015, o superávit foi
de R$ 821 bilhões. Atualizado pela Selic, seria hoje de R$ 2,1
trilhões. Nos últimos 20 anos, devido a desvios, sonegações e
dívidas, a Previdência deixou de recolher aos seus cofres mais de
R$ 3 trilhões!
A
CPI denunciou que um dos meios de desviar recursos da Previdência é
pela DRU (Desvinculação de Receitas da União). Entre 2000 e 2015,
foram retirados R$ 614 bilhões. Atualizado, esse valor seria hoje de
R$ 1,4 trilhão. No ano passado, o percentual de retirada subiu de
20% para 30%. Ou seja, o Planalto toma dinheiro da Previdência para
outros fins, e depois a acusa de deficitária...
Segundo
Floriano Martins, vice-presidente da Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, a reforma da
Previdência só beneficiará um setor: o sistema
financeiro. Este está ávido para se apossar daquele
que será o maior fundo de pensão fechado do Brasil: o dos
servidores públicos federais. E, como efeito cascata, do
funcionalismo estadual e municipal.
A
previsão é que ele se transforme no maior fundo de pensão do
Brasil ao longo dos próximos 20 anos. Segundo Martins, o governo
abre espaço para oferecer previdência complementar fechada a
ser gerida diretamente pelos bancos.
O
Planalto quer a reforma a todo custo para entregar a previdência do
setor público complementar aos fundos de pensão. Ou seja, conclui
Martins, se a reforma passar, o trabalhador brasileiro estará
condenado a trabalhar até morrer sem se aposentar.
A
grande reforma que o Brasil exige é a tributária, de modo a cobrar
mais de quem ganha mais, e menos de quem ganha menos. Um dos buracos
da Previdência é o volume de sonegação. E o governo Temer ainda
ameniza as dívidas dos sonegadores e alivia aqueles que devem ao
Funrural, destinado ao trabalhador do campo.
É
uma vergonha o secretário da Receita Federal, Jorge Antônio Rachid,
admitir à CPI do Senado que serão precisos 77 anos para cobrar dos
sonegadores... Esta é uma grave ofensa à inteligência e à
dignidade do povo brasileiro que, com o seu trabalho, cobre os
buracos deixados pela sonegação.
* Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.
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