segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Quem tem medo de São Paulo?


* Por Flávia Cabral



Uma ida a São Paulo nunca é uma viagem qualquer, principalmente em visita a amigos de longa data. Porque São Paulo é um mundo, e meus amigos, sócio-fundadores da Confraria do Pão de Queijo Expresso, conseguiram tornar aquele monte de concreto armado quase uma caixinha de delicadezas...

E lá fomos nós, saltimbancos... E viva a amizade, a cachaça e a cidade! Viva Jabaquara, e São Judas que nos salve dos impossíveis com muita Luz para alumiar nossos caminhos em direção à tão sonhada Liberdade! E, se ainda assim falharem nossos intentos, dai-nos pelo menos a Consolação. Amém.

Similaridades

E estávamos lá! (Juro que é verdade...). Conferindo se São Paulo é mesmo o túmulo do samba, mas a porta do bar estava fechada para menores de 25 reais. Daí seguimos para a feira do Calixto, que nos recebeu com aquele chorinho das salas de nossas avós (ou será bisavós?), e uma platéia meio punks do edifício Maletta (mais belorizontino, impossível) misturado com a Usina Unibancool de Cinema. Lar, doce lar... Descobrimos também que o nosso velho pão com carne moída se chamava “Buraco Quente”. Como não pensamos nisso antes?!
Nem luxo, nem lixo

Em São Paulo, a visão fica borrada com tantas imagens, e não sabemos se o lixo virou luxo ou se o luxo está é se disfarçando de lixo, assim, pra ficar meio underground, entende? No ponto em frente de um daqueles botecos onde a expressão “copo sujo” seria um tanto quanto, digamos, lisonjeadora, fomos surpreendidos por uma música em italiano, uma quase ópera. Não era CD, não era DVD, era um homem e uma mulher em verdadeiro duelo musical num karaokê vagabundo. A magia contaminou o prosaísmo do ponto, que parou para ouvir. E a vida, banal como nunca, nos mandou o busu justamente no momento da descoberta... Snif!

Ouviram do Ipiranga?

Visitamos o Museu do Ipiranga, que na verdade se chama Museu Paulista, como manda a índole dos nativos. Tínhamos relativamente pouco tempo, então o jeito era dar uma bisbilhotadinha nas imensas salas, transportados, de carruagem ou cadeirinha de arruar, para os tempos em que as escarradeiras faziam parte do mobiliário uma família chique. Aliás, acho que todo visitante deve ter uma vontadezinha de levar de souvenir a mais modesta peça daquelas expostas.... Mas quem quiser conhecer as margens plácidas do Ipiranga, vai encontrar apenas um esgoto a céu aberto. É o progresso...

O avesso

Em nossa busca pela “alma paulistana”, seja lá o que isso for, passamos na Ipiranga com São João. Não aconteceu nada em nosso coração naquele momento, mas posso garantir que o bar Brahma, ao lado da famosa esquina, tocou fortemente nuestra alma latina, ao som de samba e salsa! Só uma pergunta não quer calar: será que o cinza da cidade acinzentou o paulistano, que samba pouco e ri de lado?

Meca

Ir a São Paulo sem assistir a um espetáculo é ir a Roma e não ver o papa. Por um feliz acaso do destino, fomos parar numa sala do Sesc, para ver “O Púcaro Búlgaro”. Púcaro é um vaso com alças, mas o significado de búlgaro só será descoberto quando comprovada a existência da Bulgária, como pretendem os personagens dessa comédia non-sense de muito sentido (!). Falando nisso, alguém já conheceu um acreano?

La garantía soy yo!

Nunca conheci as provavelmente plácidas terras do Acre, mas o inferno urbano certamente atende por Rua Ifigênia, no Vale do Anhangabaú. No meio de um formigueiro humano, você encontra tudo quanto é computador, programa, MP3, 4, 5, 10... Saímos com nossos aparelhinhos nas sacolas, exatamente iguais, bons mosqueteiros que somos, já que mineiro gosta mesmo é de andar em bando, né não?

It’s raining man...

Para terminar os dias numa capital tão moderna, nada melhor que uma boate “liberal” no Largo do Arouche, ao som de muito anos 80. Sabe o que é se sentir invisível que nem aquela meia Trifil? Pois é... Éramos umas seis mulheres pingadas no meio de uma irmandade masculina. E que irmandade! A vantagem: eu e as outras pudemos esquecer as etiquetas de comportamento, ahn, dançável: dançamos certo & torto, no melhor estilo Não se Reprima...

E assim foi. Era uma vez até a próxima.


* Jornalista, assessora de imprensa da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).



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