segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Qual é o símbolo contemporâneo do Natal?


Querido leitor, responda depressa, sem vacilar: “Qual é o símbolo do Natal em nosso tempo, o do século XXI. Mas o que é de fato, aquele que pessoas do mundo globalizado (e ferozmente materialista) identificam, mesmo que não admitam, por motivo que só eles sabem?”. Se você for cristão praticante (e, convenhamos, os que praticam, de fato, sua religião, são minoria) responderá (nem sei se com convicção): “Ora, é o menino Jesus, claro!”. Os hipócritas, certamente, darão essa resposta, mesmo não acreditando nela. Dois terços da humanidade (estimadas 2,5 bilhões de pessoas que afirmam professar o cristianismo), por um motivo ou por outro (ou acreditando mesmo nisso, ou querendo posar de santinhos), dirão que o símbolo do Natal é o menino Jesus e ponto final. Claro que deveria ser. Mas é? Infelizmente... não é!!!

No mundo globalizado do século XXI, desde meados do século XIX, a data máxima da cristandade, há já bom tempo, tem dupla conotação. Para uma minoria, que cada vez aumenta mais, o Natal é eminentemente religioso. Já para a imensa maioria, ou seja, para estimados 5,1 bilhões de não-cristãos (dos quais cerca de um bilhão e cem milhões ou são ateus, ou agnósticos, ou não professam nenhuma religião específica), o símbolo do Natal não é o menino Jesus. É um tal de “Papai Noel” (que também o é para milhões e milhões de cristãos quando estes encaram o evento pelo seu aspecto, digamos, “profano”). E não se trata, diga-se de passagem, do bispo católico de Mira, na Turquia, do século III da nossa era, conhecido como São Nicolau (ou como Santa Klaus, ou Sinterklaas, não importa), como muitos pensam (erroneamente), que se notabilizou pelo hábito de dar presentes.

Esse Papai Noel de que os pais do mundo inteiro se fantasiam nos dias 25 de dezembro de cada ano para presentear seus filhos pequenos, esse que se vê nas lojas e shoppings do mundo globalizado atraindo meninos e meninas para que convençam papais e mamães a comprarem, comprarem e comprarem sobretudo o supérfluo, é relativamente recente. Ocupa o imaginário popular ha três ou quatro gerações, se tanto. “Nasceu” nos Estados Unidos. É fruto da imaginação de um desenhista alemão, Thomas Nast, que vivia nos EUA, e que publicou seu desenho, em 1881, na revista “Harper’s Weekly”. Duvido que lhe passasse, mesmo que remotamente, pela cabeça que o personagem que inventou faria tanto sucesso, ao ponto de se tornar mais popular, por exemplo, do que os Beatles, e no mundo todo.

De início, aquele Papai Noel original não se parecia nem um pouco com o atual. Assemelhava-se, na verdade, a um gnomo minúsculo, baixinho, em uma floresta. Não era gordo e nem se trajava de vermelho. Nast, todavia, foi, aos poucos, de um Natal para outro, melhorando seu desenho. Não tardou, por exemplo, para que o velhinho original ganhasse uma barriga protuberante, a altura atual e a imensa barba branca. Mas seu traje, por cinquenta anos, tinha as cores mais variadas. Só passou a ser vermelho a partir de 1931, quando a agência publicitária Haddon Sundblom, contratada pela Coca-Cola, “padronizou” a figura do “bom velhinho”. E criou todo um cenário imaginário em torno desse “garoto-propaganda” (mais correto seria dizer “ancião-propaganda”) do ultraconhecido refrigerante.

Originalmente, na concepção de Thomas Nast, seu criador, Papai Noel vivia no Polo Norte, de onde se deslocava no Natal para presentear as crianças que tivessem bom comportamento. Todavia, um locutor de rádio finlandês, Markus Rautio, acrescentou novo ingrediente à versão moderna, que prevalece até hoje. Revelou, em 1927, que Papai Noel, na verdade, não vivia no Polo Norte, como se dizia, mas na Lapônia, uma das regiões mais remotas e mais gélidas da Finlândia. Ali, manteria sua fábrica de brinquedos, tendo como mão de obra um punhado de duendes artesãos. As entregas, ao redor do mundo, eram feitas em um trenó mágico, puxado por nove renas voadoras. E estas tinham nomes que, em português, eram (ou são, pois a tradição subsiste) os seguintes: Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago.

E como Papai Noel faz para encontrar as casas específicas para deixar seus presentes, neste mundão imenso, sem se perder no caminho? Como se guia e nunca se perde, vá para que país for? Ocorre que uma das renas, a que se chama Rodolfo, tem o nariz vermelho, que é uma espécie de luz mágica, que guia o obeso ancião nas noites de Natal e, assim, ele nunca se perde. Uma constatação, todavia, faz-se necessária. Como ressaltei, no final de uma das tantas crônicas natalinas que redigi (não lembro qual), pouco a pouco, a globalização vai surtindo efeito nas novas gerações. O Natal, mais e mais, perde suas características religiosas e se consolida como festa profana, a exemplo do Carnaval e de tantas outras manifestações populares. Cada vez menos crianças acreditam, ainda, em Papai Noel. E as que acreditam nele, são cada vez mais novinhas.

Não é fácil tapear meninos e meninas deste século XXI que, aos seis anos de idade, já sabem operar computadores, têm celulares e frequentam redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram etc.). Algumas já têm até páginas no Face ou canais no Youtube. Ainda assim, a tradição se mantém. Não descarto, no entanto, que esse Papai Noel seja, em alguns anos, “modernizado”. Em vez do trenó, talvez se desloque em um jatinho, por exemplo. Nesse caso, as renas voadoras acabarão aposentadas. Não faço juízo de valor, a propósito, somente constato um fato. É certo? É errado substituir o menino Jesus por Papai Noel? Cabe a você, paciente leitor, julgar. A você e às gerações que o sucederão. A realidade é que, não somente o menino Jesus, como o generoso bispo de Mira, cedem espaço, paulatinamente, ao ex-ícone da Coca-Cola, ao rechonchudo e estilizado “bom velhinho” made in USA, até que um dia todas essas figuras, sagradas ou profanas. venham a se apagar de vez dos corações e mentes das futuras gerações, talvez de 2050, ou de 2100 ou de 2200. Será que se apagarão?! Tudo indica que sim. Enfim... FELIZ NATAL a todos que me honram com sua leitura!!!


Boa leitura!

O Editor.


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Um comentário:

  1. A minha resposta à pergunta inicial foi apenas papai Noel, sem senões. Há décadas o aniversariante foi esquecido. Ótimo editorial!

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