segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Primeira lição
* Por Ornela França
Atrás de quem estaria aquele 'a' com de cor forte e densidade neutra? Atrás de quem? A certeza é que ele não parava de dançar na folha rosa e eu me diverti. Olhei calmamente aquela criatura que por nome de vogal podemos identificar, depois de encaixar os óculos onde são realmente úteis e, dessa maneira, pude ver que não era apenas um. Lá estavam os dois 'as' que naquela situação, em minúsculas, parecia um só.
Só então pude ver que os gêmeos dançantes estavam abraçados pelo 'n' da minha mãe. O que esse ‘n’ fazia ali? Antes era apenas um ‘a’ dançante. A música parou, ou pelo menos, o ‘a’ acomodou-se junto daquele ‘n’. De certa fora o ‘n’ era a desculpa para separar e unir os dois ‘as’.
Separando-os dava a possibilidade de formar novas palavras, unindo-se descobri aquele nome cheio de poesia e música. Era sim o nome dela. ana, em fôrma e caixa baixa, me mostrando pela primeira vez atrás de lentes oculares um nome maternal e divertido.
Descobri sim como era que chamavam minha mãe, nasal e carinhosamente. Assim ganhei o meu primeiro palíndromo. Ana de qualquer maneira foi o início de tudo, justo quando abri os olhos para ver o mundo. Palindromicamente falando, ana nasceu depois das lentes dos novos óculos que ganhei. E nem parece que perdi tanto pois ainda lembro daquele ‘a’ se mexendo e remexendo na folha rosa com letra mini, querendo dizer que não queria ficar só por ali. Meu ‘a’ aquietou-se depois disso, mas disse que não quer ficar só por aqui. Não custa se enrolar com outras letras para me divertir novamente. Vai lá, ‘a’.

* Jornalista

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