sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Imanência


* Por Emanuel Medeiros Vieira


Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”. (Sêneca: 4-aC - 65 dC).

Galos na madrugada
Galos no coração
em nuestra América
Solar manhã: contamina-me com os teus raios
Garimpeiro ainda sou – não de barras de ouro
Perdida emoção, sonho escondido no sótão
Parabólicas afetivas – o menino e o velho
sou um rio cheio de afluentes, migrando sempre – tão longe, tão perto
Esse estatuto de miséria não é o nosso
Famélicos de infinito: mapas tortos, bússolas quebradas
E meu pai aparece na luminosa manhã – e ele já se foi há tanto tempo
Pai, nossas orações estão cheias de sujeitos ocultos, predicados mesquinhos, verbos frágeis.
Sempre te amei, Pai!
Ele só escuta – terno preto, aliança, colete, chapéu, relógio de algibeira.
Tudo é descartável, pai, nada fica. Ele sorri, vai embora.
E o subcutâneo domingo irrompe além da pele.
Lembro-me de um circo mambembe que ficou no subúrbio da alma.
Do dia, quero o sumo, não só o travo – e um piano corta a tarde.
Adeus, Meu Pai!

(LIVRO ”OLHOS AZUIS – AO SUL DO EFÊMERO” – THESAURUS EDITORA/FAC, BRASÍLIA, 2009 – ROMANCE DE EMANUEL MEDEIROS VIEIRA, RECEBEU O PRÊMIO INTERNACIONAL DE LITERATURA, PROMOVIDO PELA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES – UBE –, EM 2010.
FOI CONTEMPLADO COM O PRESTIGIADO PRÊMIO “LÚCIO CARDOSO”, PARA O MELHOR ROMANCE – NA AVALIAÇÃO DA ENTIDADE – PUBLICADO NO BRASIL EM 2009
).

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.


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