segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Cultivo da personalidade


A palavra “personalidade” é, no meu entender, autoexplicativa. Não requer grande esforço mental ou semântico para ser definida e nem intensa ginástica do raciocínio para ser compreendida. É um conjunto de características, físicas, psíquicas, afetivas, comportamentais etc. etc.etc. que caracteriza determinada pessoa e a torna única, entre as que já viveram, vivem e/ou ainda viverão. Houve – e certamente, há e haverá – muitas outras “parecidas”, não raro “semelhantes”, mas jamais “iguais”. A personalidade é o que o termo sugere: o nosso “distintivo”, exclusivo, em meio a uma infinidade de espécimes da nossa espécie.

Antropólogos, biólogos, etologistas (estudiosos do comportamento), filósofos e, sobretudo, educadores, entre outros cientistas, debatem sobre se cada qual já nasce com pelo menos um “esboço” de personalidade, que pode (e é) alterado no curso de sua vida, ou se ela é moldada exclusivamente pela educação, em seu sentido mais amplo.

Entendo que há um pouco de cada. Há inúmeras características inatas, que podem ser corrigidas (ou deterioradas quando for o caso), melhoradas (ou pioradas), mas que nunca são suprimidas ou substituídas. Às vezes permanecem apenas latentes, adormecidas, mas estão dentro de nós enquanto existimos. Seus traços básicos permanecem presentes em cada indivíduo até a sua morte.

Por seu turno, há tantas outras características que vamos acrescentando ao longo da vida, voluntariamente ou ao sabor do acaso e das circunstâncias, que nos tornam, na velhice, bem diferentes do que fomos na infância (melhorados ou piorados, é mister que se destaque). O que varia, de pessoa para pessoa, é a intensidade dessas mudanças, reduzindo ou acentuando diferenças, de acordo com a realidade de cada uma.

Fica assente, pois, que podemos melhorar nossa personalidade (e também piorá-la, o que, óbvio, não é nada desejável). O homem, no sentido genérico, enquanto espécie (portanto, sem individualizar ou distinguir ninguém), em sua busca frenética pelo supérfluo, perde de vista o essencial. Em sua corrida por bens que apenas lhe pertencerão no curto espaço de sua vida terrena (provavelmente a única, a despeito do que apregoam as religiões) deixa de realizar seu potencial de grandeza, de melhorar sua imagem, sua pessoa e seus pensamentos, sentimentos, atos e, por consequência, de dar contribuição para melhorar os relacionamentos. Há exceções, óbvio (e felizmente).

Raros, no entanto, se preocupam com essa melhoria. Em geral, as pessoas tentam impor, e não raro a força (mesmo que de forma instintiva e inconsciente) o que pensam, querem e são, notadamente para os que consideram subalternos. Sequer levam em conta a personalidade alheia. Agem demais, posto que de forma caótica e desordenada, e pensam de menos, sem método, sem ritmo, sem disciplina. A maioria consegue, no final das contas, apenas infelicidade, causada pela frustração dos desejos, que não sabe limitar e nem moldar na medida da capacidade e malbarata a vida que, como todos sabem, não tem reprise.

Existe alguma forma do indivíduo moldar a personalidade ou esta é produto apenas da genética? Podem, a educação e o meio em que a pessoa nasceu e/ou foi criada (portanto, mera fatalidade) melhorar ou piorar essência de alguém, o que o distingue dos demais? As opiniões divergem. Muitos educadores entendem que a moldagem é não apenas possível como desejável e que a vontade (do educador e, principalmente, do educando) tem papel determinante nessa operação. Outros, por sua vez, acham que não.

Da minha parte estou convicto que o desenvolvimento de uma personalidade sadia, integrada e, sobretudo, voltada para o mundo, e não exclusivamente para o interior das pessoas, é não apenas factível, como até uma das tarefas principais do ser humano durante a existência. Pode parecer paradoxo esse empenho, já que cada indivíduo que nasce é único, sem qualquer similar no passado e no futuro.

Podem surgir sósias (e volta e meia surgem). Há identidade de características biológicas, por exemplo, em gêmeos univitelinos, impossíveis de serem distinguidos quando juntos e trajando as mesmas vestes. No entanto, não existem (e não existiram nem existirão) duas pessoas exatamente iguais. Cada qual é única, é original, é um mundo, é um universo complexo e indesvendável em sua totalidade.

É certo que há comportamentos padrões que massificam, descaracterizam e nulificam o indivíduo, imposto de cima para baixo. Os tiranos buscam impor essa massificação para seu proveito. Daí cada qual ter a necessidade de estar consciente de que precisa melhorar a cada instante o que é, tem que aprender o máximo de lições e acumular quantas informações for possível, deve “colecionar” todas as experiências que puder para, assim, realçar seu distintivo, suas peculiaridades (caso positivas e construtivas, claro), sua marca pessoal, essa tal a que se convencionou chamar de "personalidade".

Boa leitura!

O Editor.


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Um comentário:

  1. Sendo assim somos todos moldáveis até o último dos nossos dias. Seríamos então possíveis "maria vai com as outras?"

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