sábado, 23 de dezembro de 2017

Bimbalham os sinos


* Por Ruth Barros



Ao contrário do Luciano Huck e da Angélica, que devem adorar o Natal, pois passam dezembro inteiro com um sorriso de orelha a orelha nos comerciais, não sei se por paixão pelo nascimento de Cristo ou se pelos milhões faturados, Anabel detesta essa época. E olha que não estou falando nas enchentes, nos engarrafamentos monstro que dão vontade da gente andar de vassoura e nem mesmo na agitação do comércio, que transforma uma mísera compra de supermercado em um suplício. São ossos do ofício, inevitáveis como a epidemia de dengue que se anuncia a cada verão.

O pior mesmo para a escriba é a obrigação de alegria e de felicidade que dezembro impõe. Sem querer ser mais chata que já sou acho esse período melancólico, sujo, quente, onde a miséria parece ser realçada pelo tititi criado pelos que tudo têm e que sempre querem mais. E antes que meus amados e escassos leitores desistam de mim de vez por causa do baixo astral devo dizer que qualquer um se sentiria assim se morasse no meu prédio. Parece que a 25 de Março mudou para cá, tal a profusão de luzes, luzinhas, acendentes, apagantes, de todas as cores, que ornamentam a entrada do edifício. E o pior, todos os prédios da rua estão igualmente rebocados, o que aumenta a sensação de calor das noites abafadas. Chega a dar saudade da época do apagão do Fernando Henrique, que obrigou a população a ser mais comedida no quesito luzes de fim de ano.

A enormidade de contas a pagar, os décimo-terceiros, as inevitáveis gorjetas para lixeiro, carteiro, porteiro, manobreiro e outros eiros tiram qualquer um do sério para jogá-lo no vermelho. O medo de ter caído na malha fina do Leão, da facada que virá com o novo IPTU, IPVA e similares também mexem com minha cabeça, deixando o fraco cérebro preocupado com o rombo do princípio do ano. Além de todas as incertezas financeiras vêm as confusões de família, viagens – mais um bom motivo para andar de vassoura nesse apagão aéreo do Lula – e a comidaria obrigatória, que apesar de deliciosa, mexe com meu corpinho e me faz temer pelo futuro dele.

Resolvi reagir. Matriculei-me numa academia e paguei o ano inteiro. Assim, quando vierem as contas e impostos, não terei de desviar dinheiro da cesta básica de qualquer garota, ou seja, manutenção da cinturinha, para cobrir supérfluos. Vou começar a produzir endorfina (natural) através dos exercícios, ficando mais alegrinha e combatendo esse aluguel que estou fazendo na cabeça dos leitores. De quebra, abrirei espaço para mais comida e bebida, sem grandes pesos na consciência, só no fígado e na balança. Se conseguir pisar na areia sem canga, que nem as gordinhas do Dove, já me darei por bem paga. Encher bem um biquíni selvagem ainda é uma grande vingança.

Anabel Serranegra também acha festa de Ano Novo um saco.

* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.








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