terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A fome do dragão

* Por Ângelo Monteiro

Absurda e veludosa
essa fome que o dragão
vem sofrendo pelas rosas:
bem mais mansa que a de pão.
Ainda que assim tão leve
como feita de veludo:
não é por isso mais breve
nem menos fome contudo.
É triste ver o dragão
com tal fome sem remédio:
sobre pilastras de tédio
forjadas de solidão.
É triste o desejo ver
tão belo mas represado:
de quem foi assinalado
de dragão para morrer.
E há fome mais exigente
do que essa fome inventada
pela crueldade inocente
do sonho da coisa amada?
Mas se não temeis dragões
nem vivos, nem fantasmais:
acautelai-vos, irmãos,
das fomes mansas demais.


* Poeta e ensaísta

Nenhum comentário:

Postar um comentário