sábado, 7 de outubro de 2017

Vamos

* Por Flora Figueiredo

Deus:
Meu respeito.
Sei que não é direito escrever
só pra fazer reclamação.
E por isso então
que desta vez
venho propor ajuda.
Está tudo conturbado
em tudo quanto é canto,
pra tudo quanto é lado.
Ou é o canto que dá errado,
ou é o lado que não muda.
Decidi fazer a minha parte:
colorir a vida
com as cores que tenho.
Uma dose de empenho,
mais um tanto de arte.
Eu estendo a cor
sobre o tablado da desilusão.
Amarro a ponta
para que, esticada,
seja como um bordão
de uma dança improvisada.
Quero homenagear a esperança que resta,
convidar o mundo todo a vir à festa.
Se seu regulamento permitir bailar,
venha conosco.
Teremos muito gosto em receber
o autor de todas essas fitas
que me propus combinar
para tornar a sorte mais bonita.
Busquei-as naquele arco colorido
com que Você pinta o céu,
saído das tintas da paleta.
Desculpe se meu ato é atrevido,
mas, se não for assim,
essa vida vai ficando branca e preta. 

In Amor a Céu Aberto, 1992 

* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 


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