sábado, 21 de outubro de 2017

Pátria amada

* Por Flora Figueiredo

Sinto a paz entortar
e a segurança tremer
em desassossego,
como num espasmo celular.
Procuro então minha criança,
para ver se ela ressona
sua infância
como quem não está ainda sabendo
que o ar da tarde está ventando
e que o sol amigo anda chovendo.
Vejo meus sonhos debruçados
na varanda,
a esperança aguardando,
iminente.
A bola,
a bala,
a lavanda.
Medos dobrados,
tambores guardados,
a lua lactente da noite,
brilhando.
Até como, meu Deus, até quando? 

In Calçada de Verão, 1989 


* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 



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