sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O segredo



* Por Alejo Carpentier


Não devo pensar.
Antes
 de tudo sentir e ver.
E quando
 de ver se passa a olhar,
acendem-se raras luzes
 
e tudo
 adquire uma voz.
Assim, descobri, de repente,
em um segundo
 fulgurante,
que
 existe uma Dança das Árvores.
Não
 são todas que conhecem
o segredo
 de dançar ao vento.
Mas
 as que possuem a graça 
formam rodas
 de folhas ligeiras,
de ramos, de brotos, em torno
de seu
 próprio tronco estremecido.
E é todo
 um ritmo que se cria 
nas folhagens; um ritmo
 ascendente 
e inquieto, com
 encrespamentos
e retornos
 de ondas, com brancas
pausas, respiros, vergamentos,
que
 se alvoroçam e são 
torvelinho, de repente, numa
música
 prodigiosa do verde.
Não
 há nada mais belo que a dança 
de um
 maciço de bambus na brisa.
Nenhuma coreografia
 humana 
tem a eurritmia
 de um ramo 
que
 se desenha sobre o céu.
Chego a me
 perguntar às vezes 
se as formas
 altas da emoção 
estética
 não consistirão,
simplesmente, num supremo
 
entendimento
 do criado.
Um
 dia, os homens descobrirão
um
 alfabeto nos olhos 
das calcedônias, nos pardos 
veludos
 da falena, e então 
se saberá com
 assombro 
que
 cada caracol manchado
era, desde
 sempre, um poema. 

Tradução de Marcelo Tápia.



* Poeta, novelista, ensaísta e músico cubano.

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