Mário
Faustino
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
“Não
conseguiu firmar o nobre pacto
Entre
o cosmos sangrento e a alma pura
Porém,
não se dobrou perante o fato
Da
vitória do caos sobre a vontade
Augusta
de ordenar a criatura
Ao
menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador
defunto mas intacto - (Tanta violência, mas tanta ternura).” (…)
(Mário
Faustino)
Tão
cedo morreu. E foi um dos maiores poetas de sua geração. E um dos
temas mais obsessivos de sua obra foi a morte.
“Não
morri de mala sorte
Morri
de amor pela Morte”, escreveu ele.
Nasceu
em Teresina, mas a maior parte dos seus estudos foram feitos em
Belém.
Foi
jornalista, tradutor, crítico literário e poeta.
Em
1955, publica seu primeiro e único volume de poemas: “O Homem e
sua Hora”.
Em
1956, muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro.
Torna-se
editorialista do “Jornal do Brasil” e colabora com o famoso
Suplemento Dominical (SDJB).
Um
dos seus lemas foi: “Repetir para aprender, criar para renovar”.
Diz
a lenda que ele pressentiu sua própria morte.
No
início da década de 60, uma astróloga pressentiu uma catástrofe
nos anos que viriam (segundo relato de Almir de Freitas).
Sua
reação teria sido, inicialmente, um tanto cética.
Em
1962 – segundo informes – adiou o quanto pôde uma viagem para a
Cidade do México e, quando finalmente decidiu embarcar, deixou à
sua mãe e cunhada instruções minuciosas de como proceder no caso
de um “desastre”.
Faustino,
por Chico Marinho.
No
dia 27 de novembro de 1962, perto das 5h30, o Boeing da Varig em que estava preparava-se para uma escala em Lima, no Peru, quando
espatifou-se no Cerro de La Cruz, matando todos os passageiros. Seu
corpo nunca foi encontrado.
Assim,
aos 32 anos, desaparecia um dos maiores talentos de sua geração.
Glauber
Rocha (1939–1981), no seu belo e denso “Terra em Transe”
(1967), homenageia-o transcrevendo os versos citados na epígrafe
deste texto.
Sua
morte, segundo Almir Freitas, abriu um vazio na inteligência
brasileira.
Creio
que sua obra, mereceria um análise mais longa e densa.
Mas
meu maior intuito é que as novas gerações possam conhecê-lo, pelo
menos superficialmente.
Ironia
(como quase sempre acontece na vida): contam que a casa em que viveu
em Teresina foi demolida e lá foi instalada uma agência da Varig –
a mesma empresa cujo Boeing em que ele estava, espatifou-se nas
montanhas em 27 de novembro de 1962.
(Brasília,
outubro de 2016)
*
Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em
Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do
efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo
nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros.
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