segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Mário Faustino


* Por Emanuel Medeiros Vieira

Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura
Porém, não se dobrou perante o fato
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto - (Tanta violência, mas tanta ternura).” (…) (Mário Faustino)


Tão cedo morreu. E foi um dos maiores poetas de sua geração. E um dos temas mais obsessivos de sua obra foi a morte.

Não morri de mala sorte
Morri de amor pela Morte”, escreveu ele.

Nasceu em Teresina, mas a maior parte dos seus estudos foram feitos em Belém.

Foi jornalista, tradutor, crítico literário e poeta.

Em 1955, publica seu primeiro e único volume de poemas: “O Homem e sua Hora”.

Em 1956, muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro.

Torna-se editorialista do “Jornal do Brasil” e colabora com o famoso Suplemento Dominical (SDJB).

Um dos seus lemas foi: “Repetir para aprender, criar para renovar”.

Diz a lenda que ele pressentiu sua própria morte.

No início da década de 60, uma astróloga pressentiu uma catástrofe nos anos que viriam (segundo relato de Almir de Freitas).

Sua reação teria sido, inicialmente, um tanto cética.

Em 1962 – segundo informes – adiou o quanto pôde uma viagem para a Cidade do México e, quando finalmente decidiu embarcar, deixou à sua mãe e cunhada instruções minuciosas de como proceder no caso de um “desastre”.


Faustino, por Chico Marinho.

No dia 27 de novembro de 1962, perto das 5h30, o Boeing da Varig em que estava preparava-se para uma escala em Lima, no Peru, quando espatifou-se no Cerro de La Cruz, matando todos os passageiros. Seu corpo nunca foi encontrado.

Assim, aos 32 anos, desaparecia um dos maiores talentos de sua geração.

Glauber Rocha (1939–1981), no seu belo e denso “Terra em Transe” (1967), homenageia-o transcrevendo os versos citados na epígrafe deste texto.

Sua morte, segundo Almir Freitas, abriu um vazio na inteligência brasileira.

Creio que sua obra, mereceria um análise mais longa e densa.

Mas meu maior intuito é que as novas gerações possam conhecê-lo, pelo menos superficialmente.

Ironia (como quase sempre acontece na vida): contam que a casa em que viveu em Teresina foi demolida e lá foi instalada uma agência da Varig – a mesma empresa cujo Boeing em que ele estava, espatifou-se nas montanhas em 27 de novembro de 1962.
(Brasília, outubro de 2016)

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.


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