quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Ciência e imaginação


O artista é o sujeito que lança mão apenas da imaginação para criar obras nascidas exclusivamente da sua fantasia, enquanto o cientista se atém ao concreto, ao comprovável, àquilo que pode ser racionalizado e repetido quantas vezes se desejar, desde que certas regras sejam rigorosamente respeitadas, certo? Errado! O que entendemos por ciência não é mais do que fruto da especulação. O que hoje é tido como dogma incontestável, amanhã pode estar totalmente ultrapassado por novas "descobertas", que por sua vez talvez sejam superadas por outras, e mais outras e mais outras, em um número de vezes que pode se perder no infinito. Karl Popper alertou sobre o dogmatismo para quem pretenda ser um cientista. Afirmou: "As teorias científicas são apenas invenções humanas e devem estar perpetuamente sujeitas a revisão". E de fato estão.

Há somente pouco mais de um século, acreditava-se ainda em geração espontânea, até que Louis Pasteur demonstrasse que só vida pode gerar vida. Há 70 anos, a existência de vírus e bactérias não passava de mera especulação. Ainda hoje se discute se esses agentes infecciosos são seres vivos, inanimados ou um meio-termo entre os dois. Como se vê, a ciência, até mais do que a arte, se alimenta de imaginação. Nutre-se da ilimitada capacidade humana de criar. Ou de recriar o existente com novas formas. O verdadeiro cientista é o que mantém a mente sempre aberta para a dúvida. O que nunca aceita uma evidência como prova definitiva. O que questiona, contesta, indaga, busca respostas e não aceita nenhuma como sendo a última, a final, a indesmentível.

Paul Feyerabend observa que "a ciência só progride transgredindo as regras impostas pela lógica". É, como se vê, uma atividade essencialmente transgressora, especulativa, inovadora, não-dogmática e anarquista em seu sentido mais nobre. É, essencialmente, "imaginação". Até porque, as limitações dos sentidos humanos e o curto tempo da existência do homem impedem-no de ter conhecimento completo, absoluto, positivo sobre qualquer coisa, por mínima que seja. Desconhece até a própria origem. Como sua mente inquieta busca explicações para tudo, elabora (o que é bastante louvável e estimulante) um sem-número de teorias, nenhuma comprovável, a esse respeito. A mais aceita é a da evolução. Seria ciência? Seria fantasia? Seria lenda? Seria ficção? Ciência, no sentido lato do termo, não é. Carece do pressuposto básico. Não pode ser demonstrada através de experiências passíveis de reprodução. É, por conseguinte, o quê? Mera imaginação!

Especula-se, por exemplo, que esse animal atípico, dotado de consciência, capaz de mudar o próprio destino e de alterar a natureza, evoluiu de seres vivos primitivos, que por sua vez surgiram de um acaso ambiental, de uma "sopa de aminoácidos" em que a Terra original se transformou em decorrência de sua intensa atividade vulcânica. Que essas criaturas simples em sua morfologia, unicelulares, através de sucessivas mutações, foram ganhando complexidade e se adaptando a um meio "a priori" hostil, até chegar ao estágio atual, decorrendo, aí, alguns bilhões de anos. Supondo que essa teoria seja lógica --- obviamente não é --- não há como demonstrar essa tese mediante reproduções de laboratório. Muito menos o tempo transcorrido, com teste do Carbono-14 ou sem ele.

Os pesquisadores até que reproduziram a tal "sopa de aminoácidos". Mas não conseguiram criar uma única forma que sequer se aproximasse de um ser vivo. Os adversários das religiões, os que se arrogam a uma racionalidade que na verdade não possuem, os que negam a existência de uma inteligência superior, infinita e eterna (deem o nome que quiserem ao que chamo de Deus), costumam dizer que a metáfora da Criação, narrada no primeiro capítulo da Bíblia, é um "conto da carochinha", ingênuo e rústico, voltado para "mentes ignorantes".

Estes não devem, todavia, ter lido o relato bíblico. Posto que metafórico, ninguém jamais, em tempo algum, em qualquer lugar, fez uma narração com tamanha lógica e sabedoria quanto esta sobre assunto de tamanha complexidade. E seu autor não contava com a parafernália de instrumentos e nem com a espantosa soma de informações ao dispor do homem contemporâneo. Não tinha biblioteca, arquivos, computadores, etc. O relato em questão é fruto exclusivo de uma sabedoria superior. Não exclui, em hipótese alguma, uma explicação dita "científica", se esta for cabível. Qualquer que tenha sido a origem do homem, a primeira dessas criaturas inteligentes não deixou vestígios de sua passagem. Não documentou quando surgiu, já que não dispunha de um sistema de medição de tempo. Não tinha inventado o alfabeto, que lhe permitiria um registro escrito do que via ou pensava. Provavelmente sequer se comunicava oralmente. Tudo isso veio depois. Ninguém poderá, portanto, saber quem foi e nem quando nasceu.

Prova de verdade, portanto, sobre a origem do homem, jamais será conseguida. E não se trata da afirmação de um céptico empedernido, mas da mínima lógica. Quanto aos demais tipos de conhecimento, ditos científicos, as dificuldades são iguais ou até maiores. A imaginação, portanto, é instrumental por excelência do cientista, da mesma forma que é do artista. A diferença é que este último o utiliza com muito mais charme e beleza e sem a arrogância do primeiro.

Boa leitura!

O Editor.



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