Nome
aos maços
* Por
Marcelo Sguassábia
Meninos
colecionavam maços (vazios) de cigarros na década de 70.
Quem tinha “Chesterfield”, ainda que esfarelando, tinha uma preciosidade, já que estávamos em 76 e a marca desapareceu do mercado brasileiro em meados dos 60. Enquanto vagava pelas ruas, sarjetas e bocas de bueiros à cata de algum maço que ainda não possuía, ensaiava estúpidas deduções semânticas. No caso do “Chesterfield”: “Chester” para mim era a ave das ceias de Natal. Já “field”, o escasso inglês dos meus 12 anos conseguia traduzir como “campo”. O que resultava em “campo de chesters”, algo um tanto surreal para um animal criado em confinamento e anabolizado com hormônio.
A
marca “Kent” tinha esse nome por causa da temperatura da brasa e
da fumaça do cigarro, evidentemente. Nunca poderia me passar pela
cabeça que aquele fosse o nome de um Condado no sudeste da
Inglaterra. Aliás, o predomínio de nomes ingleses nas marcas de
cigarro era absoluto: Albany, Derby, Winston, Carlton, Advance,
Belmont, Pall Mall, Benson & Hedges, Dunhill and hundreds more.
Ainda
no inglês, “Minister” para mim era intraduzível, não
associava com “ministro”. Da mesma forma que “Parliament”,
na minha mirim ignorância, não vinha de “parlamento”. Eram
nomes criados do nada, que se bastavam pela nobreza da sonoridade.
“John Player Special” era ultraelegante e esportivo, com o
preto, o dourado e a tipologia idênticos à Lotus patrocinada pela
marca. E quando certo dia o locutor da Fórmula 1 anunciou na
narração que o motor da Lotus estava fumando, minha lógica
infantil não viu nada de incoerente nisso. Analisando
particularmente o nome vertido para o português, não via lá muito
sentido em “João Jogador Especial”. Seria melhor “João
Piloto Especial”, já que a marca era ligada ao automobilismo…
A
marca “Fulgor” talvez fosse a mais valiosa e cobiçada, fazendo
páreo em raridade com “Yolanda” e “Petit Londrinos”.
Vendidas nos anos 30 e 40, o acesso da meninada a estes tesouros só
era possível via coleções de pais ou avós. Que legavam aos
pequenos herdeiros o vício do colecionismo. E, frequentemente, o do
fumo também.
*
Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Eu fumei Minister e depois Carlton, por três décadas, até há 32 anos.Meu pai fumava Charm.
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