Mescla
* Por
Flora Figueiredo
Ele
a viu toda azul:
corpo,
alma,
Azul.
Naquele estado quase perfeito
em que o tom
sai do claro,
evita o escuro,
namora o lilás.
Fica quase neon.
Ele a invadiu
numa fusão contumaz.
E se mesclou
e se imbuiu.
Sentiu-se pleno, profundo
e combinável,
talvez por ser o azul
a tinta ideal de todo mundo.
O lamentável
foi que de tanto beber-lhe a cor,
acabou por perder a identidade
e quando tentou pôr a vontade de fora,
já não achou sua ex-tonalidade,
que desbotou e foi embora.
Foi se apagando
gradual, devagarinho.
Enquanto empalidecia,
viu-se estranho e anormal
nesse estágio pré-fatal
de azul junto-sozinho.
O que ele não sabia
é que o avesso do azul é o descaminho.
corpo,
alma,
Azul.
Naquele estado quase perfeito
em que o tom
sai do claro,
evita o escuro,
namora o lilás.
Fica quase neon.
Ele a invadiu
numa fusão contumaz.
E se mesclou
e se imbuiu.
Sentiu-se pleno, profundo
e combinável,
talvez por ser o azul
a tinta ideal de todo mundo.
O lamentável
foi que de tanto beber-lhe a cor,
acabou por perder a identidade
e quando tentou pôr a vontade de fora,
já não achou sua ex-tonalidade,
que desbotou e foi embora.
Foi se apagando
gradual, devagarinho.
Enquanto empalidecia,
viu-se estranho e anormal
nesse estágio pré-fatal
de azul junto-sozinho.
O que ele não sabia
é que o avesso do azul é o descaminho.
In Calçada de Verão, 1989
*
Poetisa,
cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a
noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão
Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo
e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua
intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça
- às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre
dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal,
seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.
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