sábado, 16 de setembro de 2017

Magia

* Por Francisco Simões

No alto da duna branca
A vida pousa e descansa,
Meu pensamento na escuna
Velejando em lembranças.
O vento que vai passando
Me chama para o momento
E vejo o sol bocejando,
Discreto, se escondendo,
Sem pressa, suave, bem lento.
As cores vão desbotando
Apagando mais um dia,
A noite vai se espalhando
Trazendo de volta a magia.
 
O poeta acende as estrelas
E enfeita o palco noturno,
Alegres duendes vêm vê-las
Até um pigmeu soturno.
O sorriso da lua cheia,
Que alceia, ilumina o mar
Com as fadas a espreitar.
No ar há murmúrios de preces
De crentes, doentes, amantes,
Que os anjos, seres mutantes,
Vão entregá-las aos santos.
 
Lágrimas, sorrisos, espantos,
O encanto dos narcisos,
O medo dos desencantos,
A ciranda dos indecisos,
A profecia dos insanos,
A calçada dos excluídos,
A injúria dos profanos,
A angústia dos oprimidos,
A vergonha dos desonrados,
A vigília dos perseguidos,
O riso dos dissimulados,
O desprezo dos abjetos,
A fé que não desanima,
A mão que esqueceu o afeto,
O verso que perdeu a rima.
 
A voz da noite confia
Muitos segredos ao vento
Enquanto mil pensamentos
Planejam na fantasia.
Nas trevas o silêncio vigia,
A morte se confunde ao sono,
O mistério se refugia,
A vida acorda pro sonho.
 


* Jornalista, poeta e escritor.

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