quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Visão


* Por Murillo Araujo


Tenho à noite a visão de que a estrelas de ouro
vão descendo ao meu sonho e vêm dançando em coro.
 
Sinto-as numa nevrose...
numa fascinação... numa alucinação!
quer agonie ou goze —
eu as sinto nevoentas,
lânguidas e luarentas,
uma por uma dando o pálido clarão!
 
Uma diz: “chamo-me Apoteose!”
Outra diz: “chamo-me Afeição!”
Outra é, levíssima, a Confiança,
Outra — a Lembrança
Outra — a Ambição...
 
E assim tenho a visão de que as estrelas de ouro
Vêm, dançando, ao meu sonho e vão descendo em coro.
 
Mas choro de aflição...
pois falta estrela que procuro em choro,
falta a q1ue foi na terra um vulto louro,
falta a que está nos céus, e acha desdouro
descer e iluminar-me o coração!...
 
         Carrilhões, 1917
 


* Poeta mineiro, ganhador, em 1971, do Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto da sua obra.

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