segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Singular infelizmente


* Por Lívia Lessa


Ao começar mais um dia Lígia programa todo seu tempo. Sempre aprisionada ao exacerbado pragmatismo metódico o que a induz a decidir o que irá acontecer em cada minuto. Ou melhor, ela pensa que programa a própria vida como se administra uma empresa.

Não imaginava Lígia que as respostas dos seus questionamentos não eram visíveis apenas projetadas no mundo das idéias. É no planeta egocêntrico e inatingível por muitos que Lígia por meio das analises filosóficas encontra sua única válvula de escape.

Era impossível imaginar que naquele dia de terça-feira tudo conspirava a favor da jovem. A noite exausta de mais uma jornada de trabalho ao retornar pra casa Lígia encontra Álvoro. Desprovidos das previsões eles observam que aquele simples encontro na percepção de ambos aguçava muito mais que a melodia da Bossa Nova.

Em Álvoro que Lígia descobre que a vida é muito mais que existir, é também viver e sentir. As horas passam, a jovem encontra a plenitude. É quarta-feira e Álvoro propositalmente ou não se afasta tratando Lígia como um cristal.

A jovem fica confusa, sem entender o por quê do desmoronamento. Álvoro foge e Lígia agora está lendo a obra do filosofo francês Paul Sartre, O ser e o nada, e todos os dias dedica alguns minutos para ouvir Todo Sentimento na voz de Chico Buarque de Holanda.

E os dias passam lentamente, ambos seguem caminhos opostos, algo eles ainda têm em comum, não só eles, mas muitos que vivem essa tal pós-modernidade. A depressão, os questionamentos, as insatisfações, a alusão ao passado junto à expectativa do futuro que se torna um impedimento para se viver o presente e o constante vazio existencial que levam as pessoas a se julgarem um “nada” e acreditarem numa pseudo- liberdade.

*Jornalista. Cursou, também, Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Federal de Sergipe. Em 2005, quando estudante de Jornalismo, participou do Concurso Direitos Humanos Petrobrás de Jornalismo, no qual a reportagem “Violência contra a mulher: um problema social” recebeu prêmio de melhor texto em jornal-laboratório, e  na edição de  2006  a matéria “Especiais têm dificuldade em se integrar na sociedade” ganhou o segundo lugar nesse concurso.


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