domingo, 20 de agosto de 2017

O descanso compulsório


* Por Ruth Barros


Esse feriado, mix de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças, está enlouquecendo Anabel. Não que eu tenha nada contra a padroeira e muito menos contra crianças, muito antes pelo contrário. É que novamente me vejo obrigada a achar diversão, amigos, lugar para onde ir etc. etc. além dos gastos obrigatórios que essas atividades extras acarretam. E como não bastasse mais nada, a lógica da natureza na grande São Paulo é implacável – sol durante a semana e tempo desconfortável nos dias que permitiriam parques, praias e outros programas que exigem menos esforço mental para bolá-los, são simples conseqüência do dia bonito.

Já abordei esse tema antes – mesmo porque a escriba, em que pese a fértil imaginação, se vê cada dia mais dominada pela preguiça. E é consenso entre os repórteres e pauteiros, pelo menos os sérios, de há 40 pautas no mundo, isso é estimativa generosa, senão vejamos: eleições, prédios em Nova York que são atingidos por aviões, congestionamento nas estradas e ruas, Natal, fugas de presídios, Carnaval e por aí vai, qualquer ser humano que já leu um jornal ou assistiu TV sabe do que estou falando. Como já cobri quase todos eles dezenas ou centenas de vezes durante todos esses anos, vou me ater a um velho tema de agenda – o desespero da diversão compulsória durante os feriados prolongados.

Não se discute que ficar de papo pro ar é uma das melhores coisas da vida, principalmente se esse papo pro ar não for corolário de desemprego, tédio, falta de grana, contas penduradas, o horror, o horror. Mas depois de um feriado prolongado de 7 de Setembro, do Criança/Aparecida que agora se desenrola, só de pensar no futuro Finados (e ainda tem o 15 de Novembro que vai vir no meio de uma semana, numa quarta-feira) me dá vontade de gritar. Onde vou arrumar diversão e fígado – afinal de contas, bela parte dos programas acaba em álcool – para agüentar todos esses dias?

Pior ainda são os coitados que têm filhos, não vão emendar feriados (os pais, é claro) e que são obrigados a arranjar comida, diversão e balé para os pimpolhos presos em casa. Nos dias de hoje as escolas praticamente todas aproveitam para ter esses descansos prolongados e honestamente é impossível convencer empregadas, babás e quaisquer variações no gênero que façam o mesmo, mesmo porque não é justo deixar um trabalhador – e empregada doméstica é trabalhador feito qualquer outro – acorrentado ao serviço durante um feriado. E definitivamente empregada não é função obrigatória como pronto-socorro, médico ou jornalista. Jornalista aliás também não deveria ser, mas para nosso desespero, praticamente todas as redações do mundo trabalham nos feriados, sem contar os fins de semana.

Por outro lado, trabalhar enquanto todo mundo está na praia, na cachoeira, no sítio dos amigos ou simplesmente na casa da mamãe também é problema. Se por um lado resolve a questão do que fazer nesses dias, por outro lado deixa uma sensação de fracasso “onde foi que eu errei?”, todo mundo se divertindo e só a gente na labuta, ora bolas. Pensando bem, tem mais gente na luta nesse feriado – na quinta-feira, junto com a Nossa Senhora Aparecida, recomeçou a propaganda eleitoral do segundo turno. E campanha é um massacre da serra elétrica não só para os eleitores que sofrem com ela, mas principalmente para os que nela atuam, mesmo porque nessa etapa é jogo de vida ou morte, só um sairá ungido pelas urnas. E o próximo feriado, Finados, terá realmente cara de morte para os perdedores, tanto candidatos como profissionais desempregados pela derrota.

Anabel Serranegra morre de inveja da Daniella Cicarelli, que se manda para as praias espanholas sempre que tem um tempinho

* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.




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