domingo, 27 de agosto de 2017

Meu eco através do tempo



* Por Pedro J. Bondaczuk


Ecos, tênues ecos dos meus agudos apelos
e súplicas, e rogos e lamentos,
perdidos entre outonais meses de abril.

Tentativa, inútil,
de fugir do Tempo,
da sua fúria deletéria,
da inexorável degeneração.
De deter o curso da Terra,
de reter o sol em seu eixo,
de paralisar calendários e relógios.

Inútil faina, vã lamentação!
Incontrolável marcha das horas!
Incontida torrente de fel e cal!

Carrasco dos ideais e sonhos,
feitor da ditadora morte:
ele, sempre ele, insensível Tempo!

Ecos...Num pátio, perdido nos anos,
soam risos cristalinos e inocentes
do feliz menino que um dia fui.

Nas ásperas pedras de perdida rua
de pacata, fantasmagórica cidade,
um gato preto busca companhia.
E, em surdina, o som soturno e irritante
dos meus incertos e trôpegos passos,
cambaleantes, desarmônicos, sem ritmo,
ecoam, sombrios, murmúrios de angústia,
nas paredes sujas de mofados becos.

Calidoscópio confuso de lembranças...
Rostos que o Tempo, feroz, deformou.
Sombras furtivas de queridos finados.
Recordações, confusas, dos meus oito anos.
Ecos...Contínuos e soturnos ecos
do que já fui e do que jamais serei...

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 6 de agosto de 1964).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk



Um comentário:

  1. Não sei como alguém, aos vinte anos, pôde imaginar "a fúria deletéria do tempo".

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