Inteligência e coração
O
escritor russo, Máximo Gorky, afirmou, certa ocasião, que “a
ciência é a inteligência do mundo; a arte, o seu coração”. De
fato, ambas atividades refletem, antes e acima de tudo, o poder de
criatividade do homem, além de seu insaciável desejo de
conhecimentos.
As
duas disciplinas, se atentarmos bem, se relacionam e se entrelaçam.
Ou melhor, se complementam. São como irmãs siamesas que convivem
num mesmo corpo, posto que com cabeças diferentes. A ciência tem
muito de emoção, de sonho e de fantasia, a despeito da precisão de
seus métodos.
O
físico Albert Einstein assegurou, com a autoridade de eminente e
reconhecido cientista que foi, que toda conquista científica começa,
invariavelmente, com a imaginação, o sonho e a fantasia. Estes,
todavia, são testados ao extremo em laboratórios, e com o máximo
rigor, até que o pesquisador se convença da sua realidade. Para
isso, no entanto, tem que “descobrir”, e expor, as inflexíveis
leis que regem os fenômenos estudados.
Todavia,
para se tornar verdade científica, só isso não basta. É
indispensável que o cientista reproduza o que quer demonstrar que é
verdadeiro dez, vinte, mil, quantas vezes forem necessárias, para
que seja tido como real para a ciência.
As
artes têm caminhos inversos. O artista, via de regra, parte do
concreto, do palpável, do real, do verdadeiro para desembocar no
sonho, no virtual e na fantasia. Seu instrumento predileto (diria
indispensável) é a verossimilhança. Ou seja, fazer com que o fruto
da sua imaginação se “pareça” com a realidade, mesmo que não
integralmente. O escritor, por exemplo, quando escreve alguma
história de ficção científica, procura jamais contrariar leis e
princípios da física, da química, da biologia etc. Ou seja, tenta
tornar os personagens, cenários, diálogos e circunstâncias os mais
verossímeis possíveis, mesmo em se tratando de notórias e
delirantes fantasias.
Guardadas
as devidas proporções, as demais artes seguem a mesma trilha. Como
as ciências, têm, igualmente, suas leis, suas técnicas, seus
procedimentos, seus testes, suas verificações etc.etc.etc.
Assemelham-se, pois, na forma e na substância.
Não
vejo conflito algum entre ciência e arte. Vejo complementaridade. O
cientista enxerga o mundo como ele é, tendo como ponto de partida
como o imagina. A arte, por seu turno, enxerga-o como poderia ser,
partindo de como ele, de fato, é. Nada impede, portanto, que um
cientista competente e rigoroso seja, simultaneamente, um artista
talentoso e criativo e vice-versa. Aliás, o ideal seria que todas as
pessoas fossem um pouquinho de ambos.
As
duas atividades geram, sempre, conseqüências práticas. A ciência
desemboca na tecnologia, que, por seu turno, viabiliza as descobertas
feitas em laboratório, facilitando a vida das pessoas. A arte induz
seus destinatários à reflexão, à meditação, às verdades
fundamentais do que e quem são, onde estão e quais são seus
objetivos e metas. Não se trata, pois, de nenhuma inutilidade, como
alguns desavisados (ou néscios?) são tentados a achar.
O
que seria do mundo sem a ciência? O homem ainda estaria habitando em
cavernas (caso a espécie não desaparecesse), vivendo da caça e da
coleta de alimentos, exposto às mais banais doenças, como ser semi
selvagem, aterrorizado por fenômenos naturais que atribuiria a
“deuses” existentes apenas em sua primitivíssima imaginação.
Não saberia, sequer, como produzir fogo (técnica que pode ser
considerada como “científica”, sem dúvida). Não teria
inventado a roda, não criaria a agricultura, a pecuária, não teria
absolutamente nada do que tem. Pense nisso, querido leitor.
E
o que seria do mundo sem as artes? O homem, certamente, não contaria
com esta fabulosa capacidade de “estocar” pensamentos,
sentimentos e experiências para utilização de gerações que
sucedessem à sua, pois não contaria com esta maravilha do
intelecto, que é a escrita.
Lembrem-se
que todos os alfabetos, sem exceção, surgiram de símbolos
pictóricos. Ou seja, da pintura, que nada mais é do que uma das
artes. O homem não teria como expressar emoções. Seria tomado por
angústia tão intensa, que o conduziria à absoluta insanidade.
Não
haveria música e nem dança para expressar alegria, tristeza,
paixão, amor etc. Não existiriam pintura e nem escultura. E, claro,
inexistiria a literatura. O mundo seria sombrio, pavoroso, chato,
tedioso e sem graça. Sem a ciência, não haveria inteligência. Sem
a arte, a emoção, sem válvulas de escape, findaria por fazer o
homem explodir em ira e violência, avassaladoras e destrutivas.
Seria o caos! Pense nisso.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Não sei o que seria de nós sem os poetas!
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