Controle do homem
O
raciocínio, embora seja indispensável, por se tratar de
característica distintiva do ser humano em relação a qualquer
outro vivente, torna-se inócuo e sem sentido se não vier
acompanhado de alguma ação. Nem que essa seja a mais elementar de
todas: a mera comunicação do que se raciocinou. Afinal, se não os
comunicarmos, ninguém saberá o teor e o alcance do que
raciocinamos. E sem isso... esse ato nobre não passará de mera
perda de tempo. Ninguém irá tirar proveito dele e nós muito menos.
Por
outro lado, é certo que tudo o que fizermos tem que ser minimamente
planejado. Agir às cegas é contraproducente e, não raro, até
fatal. Em contrapartida, planos que não sejam executados são, a
exemplo do raciocínio, inócuos. Não geram efeitos e, por essa
razão, também se constituem em perda de tempo.
Não
me adianta fazer planos mirabolantes, detalhados e perfeitos, se
acabarem engavetados e logo após esquecidos. Inúmeras pessoas agem
assim, quer no que se refere às suas vidas, quer às atividades
profissionais que exercem.
Conheço
um escritor que já planejou dezenas de livros. Vi alguns desses
planos e achei-os perfeitos. No entanto... escreveu, de fato, apenas
um. Maior resultado ele teria, obviamente, se agisse mais e
planejasse menos. Seria, provavelmente, um best-seller, fosse homem
de ação.
Há,
nas empresas, a mania das reuniões da sua “cúpula pensante”. Há
algumas que exageram e promovem várias num só dia. Quem já
participou de alguma delas sabe o quanto são dispersivas e
contraproducentes.
Determinadas
decisões, que poderiam (e deveriam) ser comunicadas – não apenas
à equipe diretiva, mas a todos os funcionários – mediante simples
memorandos, o são nesses encontros, em que há muito bla-bla-blá e
pouca (ou nenhuma) objetividade. A rigor, são, via de regra,
inócuas. Raramente resultam em ações efetivas.
Anos
atrás, quando eu trabalhava em uma agência de publicidade de porte
médio, uma poderosa multinacional, com ramificações em mais de 50
países, contratou-nos para elaborar uma campanha cuja finalidade
era, justamente, desestimular as tais “reuniões”. A cúpula da
empresa avaliou a relação custo-benefício e concluiu que o
primeiro fator era muitíssimo maior do que o segundo.
Ou
seja, tratava-se de um “ralo” por onde preciosos recursos se
escoavam, com pouco e, não raro, sem nenhum retorno. Preciosas horas
de trabalho, que poderiam e deveriam resultar em decisões
fundamentais para a companhia (e de funcionários regiamente pagos,
frise-se) eram gastas para se discutir obviedades, regadas a
refrigerantes e litros e mais litros de café.
Uma
das peças que criamos na oportunidade foi um enorme painel de
acrílico, com um determinado slogan (que não me recordo qual foi),
desestimulando as chefias de convocar reuniões, que foi colocado
logo na entrada da empresa. Em vez delas, foi instituída a
obrigatoriedade de cada chefe de seção elaborar, nos minutos finais
do expediente, meticulosos relatórios sobre o que suas seções
fizeram e com quais resultados.
Ficamos
sabendo, posteriormente, que a campanha foi um sucesso. As tais
reuniões, num primeiro momento, foram reduzidas à metade. E o
balanço daquele ano, daquela multinacional específica, refletiu
considerável salto em seu gráfico de lucros, que é o que importa e
sempre irá importar aos seus atentos acionistas.
Conversas,
por melhor que seja o seu nível, não são ações. Principalmente
quando têm pouca (ou nenhuma) objetividade, como ocorre no caso das
reuniões, autêntica praga na maioria das empresas brasileiras (e,
quiçá, do resto do mundo). E, para empreendimentos industriais e/ou
comerciais, óbvio, tempo é, e sempre será, dinheiro.
Não
quero dizer, todavia, que raciocínio, planejamento e diálogo sejam
inúteis. Longe disso. Contudo, para serem eficazes, e gerarem os
efeitos que deles se espera, devem vir sempre, sem exceção,
acompanhados da respectiva e indefectível ação. Caso contrário...
Afinal,
produzir significa agir, assim como criar, modificar, consertar,
pesquisar etc.etc.etc. Enfim, todo e qualquer verbo traz essa
conotação. Essa, aliás, é a característica fundamental de Deus.
A Bíblia diz, em seu preâmbulo: “No princípio era o verbo”. Ou
seja, era o agente que construiu todo o universo, com sua grandeza e
complexidade.
Aliás,
a constatação de que agir é fundamental sequer é nova, mas
sumamente óbvia. Tanto que o poeta grego Píndaro, que viveu entre
518 a.C e 438 a.C., já havia chegado à mesmíssima conclusão, há
2.500 anos, nestes versos do poema “Quarta Olímpica”, em que
diz:
“Não
banho as minhas palavras
na
mentira; a ação é o controle de todo o homem”.
Simples
(e óbvio) assim!!!
Boa leitura!
O Editor.
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Agir para mudar ou para retornar ao estado anterior.
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