quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Aprendi


* Por Emanuel Medeiros Vieira


APRENDI QUE NÃO POSSO EXIGIR O AMOR DE NINGUÉM. POSSO APENAS DAR BOAS RAZÕES PARA QUE GOSTEM DE MIM E TER PACIÊNCIA PARA QUE A VIDA FAÇA O RESTO”. WILLIAM SHAKESPEARE).

“ESTAMOS VIVENDO UM MOMENTO CINZENTO, OBSCURO. E É IMPORTANTE ALGO QUE N0S CONFORTE (...). NÃO SINTO-ME REPRESENTADO POR NINGUÉM”. (SELTON MELLO,
ator e diretor de cinema).

“NÃO SOMOS SALAFRÁRIOS. SOMOS EXCELÊNCIAS”.(DEPUTADO JÚLIO LOPES – PP-RJ).

Esfarela-se o tempo e a sensação (no inconsciente coletivo) é de falência das utopias, de miséria espiritual, de degradação de valores, de descrença quase absoluta na transformação do país pela via institucional.

(É claro que não estou falando em luta armada. De novo? Não).
Saquearam o país. É um tempo no qual os “piratas” mais fortes fazem tudo o que não é lícito para manterem-se no poder.
Isso é novo? Sempre existiu?

Talvez não tenha ocorrido com tanta desfaçatez e falta de cerimônia.

Muitos já buscam outros caminhos, como a Espiritualização em diversos igrejas ou cultos.

Ou caem no cinismo: “São todos iguais” – em um nivelamento geral por baixo.

O deputado citado acima, que votou a favor da absolvição de Temer contra a denúncia da Procuradoria-Geral da República, diz que ele e outros não são salafrários (poderia dizer velhacos, patifes). São excelências – garante.

Ou será que aquilo que ocorreu naquela noite de horror, no fundo, seja uma metáfora da sociedade brasileira?

Da cultura do jeitinho, da valorização da “esperteza” (não da criatividade), do hábito de atravessar sinais vermelhos, de ocupar vagas de idosos e deficientes, de furar filas, de ter a volúpia do calote – de uma cultura que quer tudo sem esforço e renega o mérito?

Dos idiotizantes programas de auditório, do xingamento e ferocidades nas redes sociais?

E o tempo não cessa, na angústia da ampulheta que não para de escoar areia, em uma sucessão interminável de instantes – como tantos já constataram (nada digo de novo).

Posso deixar de interessar-me pela Política, mas ela não deixará de se interessar por mim. Nosso olhar é medido pelo olhar do outro.

É preciso que nos encantemos com as coisas simples e belas do cotidiano – é necessário construir o destino que só a nós pertence.
Tudo que não tem valor contábil parece repudiado pela sociedade na qual vivemos: amizade, amor etc. (mas sem eles, nossa vida fica pobre, carregada de penúria amorosa e espiritual).

Sem querer ser piegas, nota-se um déficit de ternura no mundo (não só nas contas do governo...).

Não há internet ou geringonça eletrônica que sacie. Estão todos insatisfeitos e muitos procuram, desesperadamente, o caminho da celebridade. Fútil, vã – também passageira.

Troquei de assunto? E por que citei Skakespeare numa das epígrafes?

Não sei: talvez, para dar um alento à aridez do mundo, para tentar reconquistar algum espaço para a esperança – ou para utopia.
Mas, afinal, o que quis dizer?

Que cada um exerça plenamente suas convicções, seguindo o imperativo categórico kantiano: fazer o bem.

Somos meros grãos de areia na imensa praia global? Somos.
Mas algo –– sempre poderemos fazer, seja na “arma” da palavra ou em outra atividade, sem buscar álibis compensatórios (que sabemos ser mentiras).

*EM TEMPO: Aqui vai nossa modesta solidariedade ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot – homem de bem, devotado ao seu digno trabalho, competente e pessoa de caráter – que tem sido atacado de maneira vil e ferozmente por gente que conhecemos: os eternos defensores da impunidade para o “andar de cima”, para os poderosos que mandam no país desde o seu descobrimento.
Um dos furiosos atacantes é ministro do STF – que alguém qualificou de “Rasputin do PSDB” – vaidoso ao extremo, que adora um holofote, e ama falar fora dos autos.

Não me esqueço do que disse dele o ex-ministro Joaquim Barbosa: “Não tenho medo de vossa excelência nem dos seus capangas”. Nem nós.
(Salvador, agosto de 2017).

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.




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