quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A fonte da juventude e a vaca perdida



* Por Luís Peazê


Esta fonte foi encontrada graças a uma vaca perdida”, me contou o analista do Tribunal de Justiça aposentado, Hilário Alencar, veja só, um dos pais da Maldita, revolucionária rádio FM Fluminense, tambor do rock para todo o país nos anos 80. - Vaca perdida? – pensei logo, que sinergia com a minha ideia de escrever sobre a falaciosa obsessão de Ponce de Leon com a Fonte da Juventude numa ponta de terra recém-descoberta por Cristóvão Colombo, que um dia se chamaria América, Estados Unidos.
 
Procurei Hilário para conversar, porque sabia de sua amizade com um amigo comum, o artista plástico Mário Benício, de Niterói, e o tal de Facebook me revelou uma bela viagem que Hilário fizera com sua esposa pela América, em maio passado. Eles saíram da Flórida, foram para a Louisiana, depois Mississippi até o Texas, retornaram pela Geórgia, indo a Carolina do Norte até saírem de volta ao Brasil pela Flórida “again”.
 
 
Hilário, como eu, gosta dos Estados Unidos e gosto não se discute. Curioso foi ele utilizar várias imagens ilustrativas para expressar a admiração por algumas peculiaridades do país. Enquanto eu costumo dizer que até a sujeira nos Estados Unidos é limpa, tão limpa que até faz mal, de tanta química (papo para outra hora), ele disse que até o feio é bonito, nos referíamos aos espaços públicos, cidades e bairros fora das grandes cidades. E de como o sistema americano permite que a organização oportunize uma sensação de conforto, de um modo geral, por onde você anda e o que faz. Mas e a vaca? Sim, a vaca. Hilário me contou que era um sonho conhecer pelo menos uma das “springs”, fontes abundantes localizadas da Flórida central e norte. Chegando em uma fazenda, que oferece passeio a visitantes que aluguem snorkel e pés de pato, para visitar a fonte, Hilário estranhou o terreno plano, difícil acreditar que uma fonte se instale ali pelas mãos da natureza. De repente, ao seguir o guia, eles chegam a um ponto, em um buraco com uma escada de madeira e lá no fundo um mundo mágico, outro planeta, com lago e tudo. Só vendo para crer. Eu sou testemunha ocular. Conversando com o guia, Hilário ouviu a história simplória que, se fosse contada por um mineiro de Guidoval, não estranharíamos: aquela fonte, dizem, só foi encontrada quando o dono da fazenda perdeu uma vaca e ao procurá-la..., você já entendeu né?
 
A vaca caíra no buraco e a fonte foi encontrada, tornando-se um ponto turístico. Há inúmeras no estado. Quem sabe uma das muitas pistas da Fonte da Juventude.

Conversei com o historiador, Professor J Michael Francis, da Universidade de St. Petersburg para tirar uma dúvida que trago desde o ginásio, de que o espanhol Ponce de Leon morrera procurando a fonte da juventude ao norte do Caribe. Tudo história mal contada.
 
Resumindo, com as minhas palavras, o relato científico do Prof. J Michael Francis, que aliás acabara de esclarecer para acadêmicos o imbróglio falacioso sobre Ponce de Leon, por ocasião das comemorações dos 500 anos do “Sunshine State”, apelido da Flórida, o seguinte: A vaca foi para o brejo, para Ponce de Leon que perdera a governança de Porto Rico, quando os espanhóis ainda dominavam parte do Caribe. Então, o vaidoso navegante espanhol pediu ao Rei de Espanha uma grana para ir com sua esquadra desbravar um arquipélago, mais ao norte, próximo dos domínios britânicos.
 
As más línguas dizem até hoje que ele queria encontrar a fonte da juventude, falada aos quatro ventos pelos índios daquelas bandas. Encontrou, a terra procurada, descobrindo que era uma ponta sólida do continente. Ali ele fincou o pé, a bandeira espanhola e deu-lhe o nome de La Florida. Era 1513. Mais tarde foram de fato encontradas na Flórida várias fontes de águas minerais, nenhuma com os poderes que os índios juravam ter, do rejuvenescimento. 200 anos depois, durante a Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra vencedora anexou a Flórida aos Estados Unidos e os espanhóis receberam Cuba, em troca de deixar o território para os vencedores.
 
E por muito tempo, antes da implantação dos parques temáticos, do Mickey Mouse ao Bush Garden e a fase relâmpago das orgias de Spring Break, a Flórida era conhecida como a região das fontes de água.
 
Para final de conversa, grande parte da história que aprendemos nas escolas vem das crônicas; e as crônicas, desde milhares de anos, sempre roubaram retalhos de relatos alheios (plágio), cimentados com inverdades, interesses particulares e arroubos românticos, poesia em forma bruta; uma linguagem anterior ao surgimento de qualquer palavra. Que anda por lugares indizíveis, lida pela alma, captada pela sensibilidade humana, inerte a qualquer semântica, sem o que nos restaria apenas a aridez dos registros históricos oficiais.
 
Ponto: a Flórida é originariamente espanhola, Cubana e Africana; é o Sunshine State (estado do sol), as coqueluches de época lhe pregam títulos e mais títulos, mas parece que o seu destino é nos remeter à juventude, fase infantil.

* Escritor e jornalista (MTB 24338), tradutor de "Por Quem os Sinos Dobram" de Ernest Hemingway. Filiado à ABJC - Ass. Brasileira de Jornalismo Científico. Presidente do Instituto Brasil Costal – BRCostal. Diretor Presidente da Clínica Literária www.clinicaliteraria.com.br


 

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