Individualidade e
personalidade
As
palavras “individualidade” e “personalidade” são, em geral,
interpretadas como sinônimas, quando, na verdade, têm significados
distintos. Um indivíduo é uma unidade de determinada espécie (ou
de uma determinada coleção, se nos referirmos a objetos) sem se
levar em conta suas características peculiares, individuais, únicas;
mas apenas as do grupo, ou do conjunto que integra.
Uma
rosa, por exemplo, se insere neste caso em relação às flores, se
não especificarmos a qual delas nos referimos. Determinado vírus
também, em relação à sua categoria, sem que se leve em conta sua
identidade, ou seja, de que tipo e causador de qual doença ele é. O
mesmo ocorre com uma cadeira, um automóvel etc. genéricos.
São
todos indivíduos, não necessariamente pessoas. Já quando se fala
de personalidade, a conotação é diferente. A palavra confere toque
de particularidade, de exclusividade. Tem-se em mente características
de determinada pessoa, por exemplo, John Kennedy, identificada não
apenas pelo nome (pois podem haver múltiplos homônimos), mas por
suas ideias, desejos, emoções, histórico de vida e circunstâncias,
únicos e exclusivos.
Para
compormos uma individualidade, não se requer nenhum esforço. Basta
existirmos. Já a formação de uma personalidade exige educação
(em sentido amplo), vivência, experiências e anos e mais anos de
vida, com o cotidiano acrescentando a cada momento novas
peculiaridades a determinada pessoa que lhe serão exclusivas. Elas
poderão ser “semelhantes” às de outras tantas, mas jamais
iguais.
As
influências a que fomos, somos e seremos submetidos até nosso
derradeiro dia de existência são incontáveis e imprevisíveis.
Somos influenciados, por exemplo, pelo meio em que vivemos. Se
tivemos a ventura de nascer em um lar equilibrado e de contar com
pais amorosos e sábios na condução dos nossos primeiros passos,
nossa personalidade será uma.
Caso
contrário, se nascemos em uma família desestruturada, se nossa
realidade equivaler à de uma sucursal do inferno, as probabilidades
de repetirmos tudo o que de ruim passamos, quando chegar a nossa vez
de nos reproduzirmos e educarmos nossa prole, serão bastante altas
(posto que não inexoráveis).
Claro
que sempre há a possibilidade de superação. Conheço inúmeras
pessoas que nasceram e se criaram em ambientes hostis e que, no
entanto, se tornaram homens e mulheres notáveis, carinhosos e
responsáveis, exemplos de dedicação e de grandeza. Para que isso
aconteça, porém, é necessário que desde a tenra idade tenham
consciência. Que saibam distinguir, sem ambigüidades, o bem do mal,
o certo do errado, o altruísmo do egoísmo, a nobreza da vilania e
fazer a opção correta.
Quando
me refiro ao ambiente, não quero dizer que se trate, apenas, do
familiar, longe disso. Têm que ser levados em conta todos os que
viermos, eventualmente, a integrar (o escolar, o profissional, o
religioso, o social etc.). As companhias, por exemplo, contam, e
muito, na formação e desenvolvimento de uma personalidade sadia e
equilibrada. O povo até tem um adágio, que de tão utilizado até
já se transformou num clichê – mas que sempre é oportuno
lembrar, pelo tanto de sabedoria que encerra – que acentua: “diz-me
com quem andas e te direi quem és”.
“Então
pessoas que freqüentam o mesmo ambiente desenvolverão
personalidades iguais?”, perguntarão alguns, mais afoitos e
descuidados, com a resposta equivocada na ponta da língua. Errado!
Podem desenvolvê-las semelhantes, o que não é a mesma coisa. Têm
que ser levados em conta outros fatores, notadamente psicológicos,
que fazem com que as reações sejam as mais diversas, assim como as
lembranças, as experiências etc.etc.etc.
Tomem
dois gêmeos semelhantes em tudo. Criem-nos nos mesmíssimos
ambientes, eduquem-nos rigorosamente da mesma forma, deem-lhes
exatamente os mesmos estímulos. Pergunto: os dois terão a “mesma”
personalidade? Jamais! Poderão, até, tê-la parecida ou semelhante.
Igual, nunca!
O
filósofo francês, de orientação católica (tomista) Jacques
Maritain escreveu o seguinte a propósito: “Cada ser humano é um
indivíduo como o animal, a planta, o átomo, fragmento de uma
espécie, parte singular da imensa rede de influências cósmicas,
étnicas e históricas que o dominam. E ao mesmo tempo é uma pessoa,
quer dizer, um universo de natureza espiritual, dotado de
livre-arbítrio e, como tal, um todo independente em face do mundo”.
Portanto,
meu amável e paciente leitor, não há porque confundir, quando
conversar com os amigos a esse respeito, individualidade com
personalidade. São, como se vê, conceitos bastante distintos, posto
que complementares.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Aprendi aqui a distingui-las.
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