terça-feira, 13 de junho de 2017

Poema


* Por Alexandre Bonafim


Ergo as paredes desse poema
claro, transparente
como a nudez do dia.
Desenho, linha a linha,
a luz dessas palavras,
instante imaculado,
fecunda lâmina.
Nesse verbo me deito.
Nele me preparo para a morte.
Nesse vinho adormeço.
Nele me cicatrizo por inteiro.
Faço desses versos
a minha pele,
as minhas pernas.
Teço com esse sopro
as minhas vértebras,
o meu âmago.
Nas sílabas desse poema,
sustento a gravidade do mundo,
ergo o dia como uma coluna
de pássaros e árvores de âmbar.
Nas letras desse abismo,
escrevo esse silêncio vertical,
perfeito como o céu de maio.
Ergo as paredes desse texto,
como quem erige o próprio túmulo,
a mesma velha antiga eternidade.
Do livro “Arqueologia dos acasos”.


* Poeta, contista, cronista, crítico literário, professor e mestre em Literatura. Autor dos livros “Biografia do deserto”, “Sobre a nudez dos sonhos” e “Arqueologia dos acasos”..


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