quinta-feira, 18 de maio de 2017

Mentalidade coletiva


O homem, como todos os animais, é um ser social. Só prospera, de fato, quando age de conformidade com o grupo em que está inserido. Ao contrário do leão, do tigre ou do urso, não demarca (e nem luta) pelo território (pelo menos não ostensivamente) e nem se digladia com outro macho pela fêmea de sua escolha. Submete-se a leis, teoricamente universais e iguais para todos, e é sancionado por elas caso as viole. Essa é a regra, pelo menos teórica, do “jogo” social. Na prática...

Por mais que o indivíduo busque desenvolver (e resguardar) a individualidade, é sempre condicionado pelo grupo a que pertence. Teme, por exemplo, entre outras coisas, as sanções sociais (e também as legais, claro) caso não proceda de acordo com os ditames a que se submete, tacitamente, mesmo que secretamente esteja em desacordo com eles. Em contrapartida, sente-se compensado com os aplausos e aprovação gerais aos seus atos quando tidos e havidos como positivos e construtivos.

Cada indivíduo compõe, pois, (com a respectiva parcela de contribuição), o que chamo, grosso modo, de “mentalidade coletiva”. Temos, todos, inúmeras atividades mentais, certa sabedoria, emoções e pensamentos próprios, de acordo com nossa personalidade, circunstâncias e experiências. As sociedades, contudo, também contam com essas mesmíssimas características, às quais nos compete nos adaptar quando estivermos em desacordo com elas.

Via de regra, somos condicionados, pela educação que recebemos no lar, na escola, na igreja etc. a essa adaptação. Porém, se tivermos visão, valores e idéias melhores do que os da sociedade em que atuamos, temos como (e devemos fazê-lo) transmitir essas características (se forem, comprovadamente, melhores). Contudo, só podemos fazer isso mediante o diálogo, o exemplo e o convencimento. Nenhum indivíduo, isoladamente, consegue (e nem deve tentar) impor à força seus conceitos pessoais ao seu grupo social, por melhores que estes sejam. Será tragado e esmagado pela maioria. Fatalmente, irá sucumbir.

A recíproca, todavia, não é verdadeira. Se pensarmos e agirmos de forma muito diferente da do grupo, e se não tivermos o talento de convencer ninguém que nós é que estamos certos, só teremos uma alternativa: ou nos enquadrarmos, ou buscarmos outra comunidade que pense e aja como pensamos e agimos. Caso contrário... sofreremos suas implacáveis sanções (não importa se justas ou injustas) e seremos segregados como elementos estranhos, intrusos e nocivos, quando não fisicamente eliminados.

O chamado “espírito social”, ou seja, o conjunto de valores, regras, tradições, conhecimentos, cultura etc. de determinada sociedade, é, portanto, sempre obra coletiva. É a soma dessas características, inerentes a cada indivíduo, que compõe a perfeição ou a fragilidade de quaisquer comunidades, quer locais, quer nacionais, quer regionais, quer (por extensão), planetárias.

O líder budista, e primeiro presidente da organização Soka Gakkai Internacional, Tsunesaburo Makiguti, observa, a propósito, com inegável lucidez, em seu livro “Geografia da Vida Humana”: “O cérebro da pessoa é uma célula que faz parte de um outro cérebro mais vasto e orgânico, que é o da coletividade, e as ações individuais estimulam umas às outras e se comunicam até que todos os membros, trabalhando juntos, dão nascimento ao espírito social”.

Se este é justo, humano e, sobretudo, solidário, os méritos, evidentemente, são coletivos e têm que ser repartidos proporcionalmente por todos os membros dessa sociedade. Caso seja distorcido, excludente e egoísta, que privilegie o mais forte em detrimento do mais fraco, o demérito é igualmente generalizado. Afinal, o grupo social inteiro tem culpa por incorporar (e sancionar, tacitamente) maus comportamentos de alguns, com a anuência ou omissão da maioria, quando não de todos.

A História não registra o sucesso de uma única sociedade nacional em que imperasse a tirania. Tiranos, claro, o mundo já teve (e ainda tem) inúmeros, que subjugaram (e ainda subjugam) povos a ferro e fogo e tentaram (e tentam) impor, exclusivamente, suas vontades. Conseguiram, é fato, por certo tempo. Contudo, como todos os seres humanos, morreram (para a felicidade geral) e seus sucessores não contaram (felizmente) com a mesma força deles – respaldada, evidentemente, no cinismo, oportunismo ou covardia dos tíbios de espírito – e seus reinados de terror desmoronaram como frágeis castelos de cartas.

O progresso dos povos, portanto, não depende nem de líderes carismáticos e muito menos de verdugos que se imponham, somente, pelas armas, quando não de paranoicos megalomaníacos que se julguem “salvadores da pátria” e apregoem agir em nome de ideologias supostamente igualitárias e nobres, na verdade fundamentadas em dogmas falsos e em contestáveis sofismas.

Só ocorre como conseqüência de um espírito social sadio e de uma visão coletiva consensual e justa, em que as ações individuais estimulem umas às outras pela excelência e se comuniquem até que todos os membros trabalhem, espontaneamente, juntos, por aquilo que melhor convém à sociedade e a cada um dos seus integrantes. Utopia? Busquemos, pois, essa utopia!!!


Boa leitura!



O Editor.


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