sábado, 20 de maio de 2017

Dois


* Por Flora Figueiredo


Dois:
a procurar nossas fragrâncias
entre sombras e reentrâncias,
a percorrer nossos roteiros,
a nos tornarmos parceiros.
Dois:
de repente nos engajamos
irremediavelmente
numa conduta lisa e calma,
engolindo do outro a própria alma
e nos mixamos.
Pra que depois
fundidos e misturados,
células e sangues consumidos
rolemos nossos núcleos confundidos
numa corrente mágica e comum.
Absorventes,
antropofágicos,
um. 



in Florescência, 1987 



* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 




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