terça-feira, 16 de maio de 2017

Ausência do sol


* Por Evelyne Furtado


"(...)Onde vocês veem coisas ideais, eu vejo - coisas humanas,ah, somente coisas demasiadas humanas!”


Naquele verão Nietzsche era o filósofo da moda. Todos pareciam conhecer o pensador intimamente, menos eu.
 

Um adolescente de 18 anos em uma discussão, online, "mandou-me" ler Nietzsche. Achei o cúmulo da prepotência. Eu, que me considerava uma leitora razoável, estava sendo questionada por não ter lido o filósofo alemão.


Depois de respondê-lo com minha ninharia Nietzschiana, advinda de Josteein Gaardner, em poucas linhas de O Mundo de Sofia e de outros livros de iniciação à filosofia resolvi encarar essa.


Empolgada com Quando Nietzsche Chorou, o romance de Irwin D. Yalon, onde Freud, Dr.Josef Breur, Friderich Nietzsche e Lou Salomé se encontram passei ao assassino de Deus.


Durante dias de muito calor, levei, seu primeiro livro, Humano Demasiado Humano e outro trabalho sobre a sua obra para a praia. Eu, Nietzsche, água de coco e o sol na Praia de Forte, em Natal.


A semana começou com o brilho do sol e o entusiamo do aprendizado. Lia os aforismos que contrariavam os fundamentos com os quais eu havia formado meu comportamento e me impressionava com a razão contida nas ideias do pensador.


Ali tudo era permitido em razão do bem estar do homem. Não havia Deus. Não havia o mal. Quem matasse ou roubasse para se satisfazer teria Nietzsche como padrinho.


O super-homem, o eterno regresso e, principalmente, o niilismo, apesar de toda genialidade do filósofo foram apagando o sol dentro de mim.


Ao fim daquela semana eu sabia um pouco mais sobre Nietzsche, porém era uma mulher quase sem esperança. O sol queimava minha pele, mas não me aquecia.


Não me interessava o mundo segundo o filósofo alemão. Eu precisava e preciso crer em um ser superior acima dos homens e fiz a opção pela fé, sem deixar de me compadecer e de admirar aquele homem sábio e triste. Optei pelo sol e deixei Nietzsche na prateleira.



* Poetisa e cronista de Natal/RN.

Um comentário:

  1. Compadecimento por Nietzsche... A falta de Deus leva os 90% da população crente a exasperar-se e querer arrumar um Deus, a todo o custo,para os demais 10%. Como pode o mundo existir sem um amigo fantástico? Eu entendo você, Evelyne, eu não entendo Nietzsche. Mas eu entendo da descrença.

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