segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

As máscaras caem no Carnaval


* Por Blima Bracher


Agora dei pra chorar de alegria. Um choro tão intenso que não dá pra prender na garganta. Ele escorre, forte e genuíno rosto afora, molhando a fantasia e borrando a maquiagem sem dó.

Escorre na cadência das baterias, no repique dos surdos, no repinique dos tamborins.

Acelera o coração ao passar dos catitões, naquele grito uníssono de alegria tão forte que se materializa em lágrimas.

E sigo ladeira acima e abaixo atrás desta endorfina para a alma.

Dentro de um bloco de Carnaval, nos tornamos um só.

Uma energia mútua, como se fôssemos apenas parte integrante de um todo gigante. E nos tornamos fortes e lindos, independente das diferenças. A energia pulsa, contagiante. Células de vida naqueles breves dias da folia de Momo.

Nesta hora, não adianta a fantasia. Cada um tem a sua, mas todos somos um. As máscaras caem.

De repente, um olhar de cumplicidade no meio da multidão. E vem o sorriso de comunhão. Sim, estamos todos comungando de um sopro de vida divino. Creio eu.

E o catador de latinhas para pra ver o bloco passar. E pega duas já amassadas, que agora viram o mais forte dos instrumentos, batendo na cadência da bateria.

É Deus que desce à Terra nos dias de folia. E, de algum lugar, sopra alegria como lança perfume.

Estaria ele escondido debaixo do Zé Pereira?

Ou dançando no Balanço da Cobra?

Quem sabe rindo de nós pelos dentes brancos das caveiras do Bloco do Caixão?

E na quarta tudo vira cinzas.

Sinto o fio gelado da navalha a perfurar meu coração.

O frio da morte ronda.

Deus subiu de novo aos céus.

E alguns foliões inconformados insistem em bater surdos sem ritmo, sem paixão.

Mas Ele de novo entre nós, fantasiado e fanfarrão, só no ano que vem.


* Jornalista e cineasta.

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