terça-feira, 31 de maio de 2016

Literário: Um blog que pensa

(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)

LINHA DO TEMPO: Dez anos, dois meses e quatro dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Academias de Letras.

Coluna À flor da pele – Evelyne Furtado, poema, “Tanto amar”.

Coluna Observações e Reminiscências – José Calvino de Andrade Lima, poema, “Mulher alegre”.

Coluna Do real ao surreal – Eduardo Oliveira Freire, crônica, “Dicas para não cair em armadilhas”.

Coluna Porta Aberta – Paulo Nogueira, artigo, “A consagração internacional de FHC como golpista e fâmulo da plutocracia”.

Coluna Porta Aberta – Jaime Vaz Brasil, poema, “Os olhos de Borges”.

@@@

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas”Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.
“Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal”Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


  
Academias de Letras


Caríssimos leitores, mais uma vez, boa tarde. Como sempre, sinto-me grato por sua presença entre nós e espero que aproveitem bem esta visita.

Hoje, conversarei com vocês sobre um tema polêmico, um dos que mais tenho encarado em rodas de escritores e a respeito do qual – e pode ser debatido o quanto quiser – jamais se chegará a uma conclusão definitiva. Refere-se à importância das academias de letras no cenário da cultura nacional. É válida nossa participação nesse tipo de instituição, voltado, basicamente, à preservação da memória dos seus integrantes? Para muitos, ser acadêmico não passa de mera manifestação de vaidade. O fato de alguém fazer parte de alguma academia de letras o torna melhor escritor do que quem nunca sequer passou em frente a nenhuma delas?

Vamos por partes. Creio na validade de se pretender ser acadêmico, já que essas instituições não se destinam, apenas, a “massagear o ego” de seus membros, como os desavisados (e os invejosos) afirmam. A maioria promove cursos, palestras, exposições de artes e outros tantos eventos culturais, importantes para qualquer cidade de qualquer país. Os acadêmicos, portanto, (salvo exceções, claro), não satisfazem aquele surrado estereótipo, ou seja, o de um bando de velhinhos que se reúne para o chazinho das cinco e para jogar conversa fora. Se vocês pensam que é isso, esqueçam. Não é!

Ademais, as academias são garantias de preservação da memória literária de um povo. Daí seus membros serem chamados de “imortais”. Por que essa designação? Porque enquanto existir a academia a que o escritor pertença, seu nome e suas obras serão sempre lembrados, estudados e exaltados por seus companheiros, muitos e muitos e muitos anos após a sua morte. É uma das obrigações do acadêmico manter viva a lembrança dos antecessores em sua respectiva cadeira.

Claro que há, nisso tudo, forte componente de vaidade. Mas que mal há nisso? Que mal existe em alguém pretender nunca ser esquecido, principalmente se tem a convicção de que fez por merecer essa lembrança e se legou uma obra literária inteligente, interessante e consistente?

Há acadêmicos que, até por questões de saúde (em geral as pessoas são eleitas para as academias muito depois dos sessenta anos), não participam de cursos, palestras e outras tantas atividades que essas instituições promovem. Nem por isso, porém, são menos importantes do que os que participam com assiduidade desses eventos.

Todavia, o fato de alguém fazer parte dessas instituições não o torna, em absoluto, melhor ou pior do que ninguém. Milhões de escritores mundo afora jamais foram acadêmicos e nem por isso suas obras são menos valiosas, inteligentes e consistentes do que as de quem está no rol dos “imortais”.

Houve tempo em que eu achava imensa bobagem disputar vaga em alguma das tantas academias de letras. Não tardou, porém, para que eu descobrisse que estava agindo como a raposa da fábula de La Fontaine, que desdenhava das uvas que não conseguia alcançar, pretextando que elas estavam verdes. Quando apareceu a chance real de eu me tornar acadêmico, mudei por completo de postura. E não me envergonho de ter mudado de opinião.

Desde 1992  tenho o orgulho e a honra de integrar uma das mais tradicionais e respeitadas academias de letras do País – que neste mês, que ora termina, completyou 60 produtivos anos de fundação – a Academia Campinense de Letras, e de uma cidade que se destaca no panorama cultural brasileiro como um dos mais avançados centros de ciências, artes e cultura do Brasil.

Refiro-me a Campinas, terra natal de Guilherme de Almeida, de Carlos Gomes e de Júlio de Mesquita, entre tantos e tantos e tantos outros grandes vultos nacionais. Afinal, convenhamos, não é qualquer cidade que tem o privilégio de contar com cinco universidades – entre as quais a Unicamp e a Universidade Católica de Campinas, referências universitárias em toda a América Latina – além de centenas de faculdades. A imensa maioria das capitais brasileiras nem de longe se compara a Campinas nesse mister.

A sede da Academia Campinense de Letras é um dos principais cartões postais desta metrópole de 1,2 milhão de habitantes. Destaca-se na paisagem por sua imponência e beleza. Sua fachada, para vocês que não a conhecem terem pálida idéia, reproduz o Partenon de Atenas, da Grécia antiga. É relevante obra de arquitetura e de bom-gosto.

Antes de conhecê-la internamente, e de ter a honra e o privilégio de ser seu membro, eu achava que se tratasse de um templo de alguma religião exótica qualquer, das tantas que há por aí. Ao me tornar acadêmico, tive a confirmação. E hoje não tenho o menor escrúpulo de tratá-la assim.

A Academia Campinense de Letras é, sim, um templo, mas não de adoração de alguma fictícia e estranha divindade primitiva, mas da cultura, do saber e principalmente das belas letras, da plena valorização e reverência desta “última flor do Lácio, inculta e bela”, que é a língua portuguesa. Parabéns, pois, ao seu ilustre presidente, Agostinho Tavolaro e a todos os confrades e confreiras que nestes 60 anos fizeram a grandeza e a glória desta casa do saber.

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

     




Tanto amar


* Por Evelyne Furtado


Estreito em meu peito um amor
Bem maior do que posso acomodar.
E se não dou vazão a tanto amar
Meu corpo sinto soluçar em vasta dor.

Vem, amor, salva-me da aflição.
Socorre em breve tua amada
Que te espera há horas,
Nessa vigília ingrata no portão.

Vem que te recebo com o melhor de mim
Dando-te mais desse amor sem fim.

Vem que tua amada traz a mesma e fiel rosa
E dar-te-á o melhor prazer em verso e prosa.


* Poetisa e cronista de Natal/RN.
Mulher alegre

*Por José Calvino
  
Figura alegre e linda
Traje esporte fino
Com unhas pintadas
Lábios vermelhos
E voluptuosos.

O mais das vezes
De Short a sorrir
Dos admiradores.

Mas, o que me admira:

Quanta beleza,
Quanta cintilação...
No seu olhar penetrante      E comovedor.
É a vida que você Representa com muito
A
M
O
R

*Escritor e poeta.

Dicas para não cair em armadilhas


* Por Eduardo Oliveira Freire


Ninguém é perfeito, príncipe ou princesa e nem vai preencher seus espaços vazios.

Arrume um companheiro e companheira possíveis e não personagens de filmes e livros românticos, ok.

O primeiro empurrão, cai fora! Agressores são reincidentes!

É carente, procure um psicólogo URGENTEMENTE. Pois, é uma potencial vítima de um crime mortal.

Confie desconfiando, não viva num mundo de conto de fadas.

Seja atento ou atenta nos detalhes!

Desconfie de pessoas que sempre são agradáveis e sedutoras demais.

Escolha melhor suas amizades e parceiros.

Mantenha sempre a atenção.

Na verdade ninguém conhece o outro totalmente e nem a si mesmo.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


A consagração internacional de FHC como golpista e fâmulo da plutocracia

* Por Paulo Nogueira


FHC viveu o bastante — 85 anos até aqui — para ver sua consagração internacional como golpista. E em Nova York, a capital do mundo.

Clap, clap, clap. De pé. Para os responsáveis pelo reconhecimento.

FHC fora convidado para participar de um encontro de cientistas políticos para debater a tão ameaçada democracia na América Latina.

É um mistério o que passou pela cabeça dos organizadores ao chamar o decano do presente golpe no Brasil. É como chamar Alexandre Frota para debater educação. Mas foi brilhante a reação dos cientistas políticos que sabem perfeitamente o papel imundo que FHC representou na trama plutocrata que colocou Temer no Planalto.

Eles prontamente se insurgiram. Diante da insistência da organização em manter FHC, avisaram que respeitavam a decisão. Mas, diante dela, alertaram que iriam comparecer de preto ao seminário em protesto contra um convite tão acintosamente equivocado.

FHC fez o que sempre fez em situações complicadas. Primeiro, se acoelhou. Fugiu da reunião. Depois, produziu uma nota que é sua alma: cínica, hipócrita, mentirosa. Nela, evocou o passado. Disse que foi perseguido pelo golpe de 1964 e coisas do gênero. Acontece que ninguém está falando de 1964, e sim de 2016. Rechaçou que houve golpe com o argumento de que o STF monitorou o impeachment.

Ora, ora, ora. Depois de gravações de conversas que expuseram brutalmente a participação do STF na derrubada de Dilma, ele tem a ousadia de citar os eminentes magistrados? Entre estes se destaca, com seu golpismo explícito, Gilmar Mendes, que foi colocado no STF exatamente por FHC.

Apenas para registro, em 1964 o STF também abençoou o golpe.

Se passado valesse, Lacerda — o maior golpista da história da República — poderia, ao estilo de FHC, dizer que foi integrante do Partido Comunista na juventude para tentar ser absolvido pelo papel vergonhoso que desempenhou repetidamente contra a democracia e a favor dos ricos.

Seja o que for que FHC tenha feito num passado remoto, tudo já foi incinerado pelo que ele é, e não de hoje.

É, numa palavra, um fâmulo da plutocracia.

Lacerda desandou quando passou a falar, demagogicamente, em corrupção para atacar governos progressistas como o de Getúlio e o de Jango. Há quantos anos FHC faz exatamente o mesmo?

Em sua descomunal vaidade, FHC tem a pretensão de ser conhecido — e respeitado — como um homem de esquerda. Ele sabe que cientistas políticos de direita são universalmente desprezados.

Mas ele não é mais que isso: um reacionário, um direitista, um golpista da pior espécie.

Seu julgamento perante a história já foi feito em vida, e ele foi condenado com desonra.

O símbolo disso foram as camisas pretas em Nova York em repúdio a ele.

* Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.




Os olhos de Borges


* Por Jaime Vaz Brasil


Na esquina do mundo
instala novas esquinas
e duela
em todas elas
com las sombras
repentinas.

Por armadilhas ao verbo
em cada frase
escondida.
Prende o pássaro-metáfora
para soltá-lo
em seguida.
E quantos mundos
existem
nos teus dois olhos gigantes?


* Poeta gaúcho


Literário: Um blog que pensa

(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)

LINHA DO TEMPO: Dez anos, dois meses e três dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Conforto e bem-estar.

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, poema, “Fugaz”.

Coluna Lira de Sete Cordas – Talis Andrade, poema, “O arrastar de um ancião”.

Coluna Pássaros da mesma gaiola – Daniel Santos, conto, “Sempre na espera”.

Coluna Porta Aberta – Glória Salles, poema, “Um dia de cada vez...”.

Coluna Porta Aberta – Fernando Monteiro, poema, “Visita a Roswell”.

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas”Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso.
“Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal”Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Conforto e bem-estar


O ambiente de trabalho é fator importante para a saúde e o bem-estar do trabalhador e, por conseqüência, para a sua produtividade. Até não faz muito, as empresas não se preocupavam com esse fator. Pensavam, apenas, em lucros crescentes e imediatos, no curto prazo. Pouco se importavam se a mão de obra que tocava sua atividade corria ou não riscos de contrair doenças incapacitantes causadas pelo trabalho. Se o operário ficasse doente, por causa da atividade que exercia, contratavam outro e tocava-se a vida.

Hoje, isso mudou. E não, propriamente, em virtude de súbito ataque de consciência dos capitalistas que gerem esses negócios. Evoluiu, para melhor, em decorrência de já extensa legislação a respeito. Estamos, claro, ainda muito distantes do ideal, mas a evolução foi sensível e louvável. Hoje há maior preocupação com o ambiente de trabalho, com a quantidade de ruídos, com o peso que um trabalhador tenha que levantar, com iluminação etc.

Estes fatores, de conforto e bem-estar, valem, também, para quem escreve profissionalmente. Não me refiro a quem faça algum texto ocasional, sem nenhuma obrigatoriedade, mas aos que despendem oito, dez e não raro catorze horas contínuas de redação.

Estes requerem todo o cuidado possível com escrivaninhas (ou bancadas de computador), cadeiras e outros equipamentos, respeitando-se a questão ergonométrica, ruídos etc. Outra cautela que se deve ter (a principal) é com a saúde dos olhos. Ou seja, a iluminação tem que ser a adequada, para que não se prejudique a visão do redator.

Não se recomenda, por exemplo, que ele fique por mais de uma hora seguida à frente do computador. Manda o bom senso que faça pausas de dez a quinze minutos, após esse período, para descanso dos olhos. Há vários exercícios que facilitam isso. Um deles, é o de olhar, fixamente, para um determinado ponto, por alguns minutos, para que as pupilas possam se descontrair.

Escrever não deve e nem precisa ser nenhuma sessão de tortura. Quanto mais confortável o redator se sentir, maior será sua capacidade de concentração e, por conseqüência, melhor haverá de ser a qualidade do seu texto (isto, se for, realmente, do ramo, dotado do talento, criatividade e técnica que a atividade requer).

Quando um escritor vai escrever um romance, por exemplo, precisa montar toda uma estratégia de produção, estipulando horários para leitura, pesquisa e textos, para ter êxito na empreitada. Não raro, será uma jornada de pelo menos seis meses contínuos e, quanto mais prazeroso for o ato de escrever, maiores chances ele terá de produzir obras consistentes, preciosas e duradouras.

Estão longe os tempos (felizmente) em que os livros eram todos feitos a mão, por esforçados “copistas” (em geral, monges). As edições raramente chegavam a cem exemplares e consumiam anos de trabalho não somente do autor, mas dos que as reproduziam, com letras caprichadas e artísticas e belas encadernações.

A invenção de Johann Guttenberg foi, pois, uma das maiores revoluções (industriais e por extensão, espirituais) de todos os tempos. Possibilitou, entre outras coisas, o acesso de qualquer pessoa ao livro e, por conseqüência, a um vastíssimo universo de conhecimento e experiência humanos.

Escritor amigo, não faça da sua atividade um eventual instrumento de tortura. Cuide da sua saúde, seu maior patrimônio. E escreva, escreva sempre e muito, cada vez mais e melhor, mas com conforto, bem-estar e segurança. E, sobretudo, com prazer.

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk   


Fugaz


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Na velocidade do mundo
que mal alcanço, não me
sobra muito tempo.
Nem bem reclamo,
nem mal murmuro.
Nem muito penso,
nem mal sussurro.
Puxo o freio no
desejo, talvez e
somente talvez me
alcances...

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


O arrastar de um ancião

* Por Talis Andrade


Para não ficar parado
sem fazer nada
preciso dar um empurrão
no tempo
Não sei se para frente
se para trás
No passado
apenas avisto os mortos

Não quero o tempo parado
nem quero pressa
Quanto mais o tempo corre
mais perto chego
do fim.


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
Sempre na espera


* Por Daniel Santos


Homens, muitos e muitos. De cueca e camiseta. Nas noites de calor, deixam aberta a porta das cabines e espreitam em expectativa o convés por onde, não demora, elas surgem do nada, talvez da espuma das ondas.

Impossível saber qual a mais bela. Vestem o tule e a organza inverossímeis da bruma e desfilam vagarosas como um sonho que não quer terminar, enquanto eles anseiam por um gesto, um sorriso que seja!

Há tempos, quando elas começaram a aparecer, foi a felicidade. No entanto, logo os homens se danaram; alguns, ao menos: ao tentarem alcançar essas que fácil se esfumam, perdiam-se ao fundo do oceano!

A partir daí, para não se perderem de vez, aprenderam a viver na contenção, no aguardo de uma escolha que, a rigor, sabem improvável. Por isso, em vez de avançarem nelas, suportam, mal e  mal, a imobilidade.

Quietos como hominídeos com receio de sair da gruta, aguardam sua vez. Quem sabe, uma delas chame. Quem sabe, enfim adormeçam. Quem sabe, o vento bata a porta e termine de vez com a visita do delírio.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.







segunda-feira, 30 de maio de 2016

Um dia de cada vez...

* Por Glória Salles

São bocados de lembranças atadas ao tempo
Que parecem não ter forma, ambiente, sequer cor.
Ensurdeço nesta ânsia de atrasar o tal momento
Desejo uterino de ouvir o pulsar, sentir o calor.

Nossos opostos acumulados eram emoção e razão
Feitas da mesma matéria éramos causa e efeito.
Hoje meu olhar vaga, nada assimila com exatidão.
É meu coração pulsando, agora fora do peito.

E fica uma sensação de busca interminável
Parece esquina errada, assunto mal acabado.
Hoje, metade de mim domina a dor implacável.

E a outra metade abraça um ser fragmentado.
Munida de força e fé, acredito com altivez.
Sustentando esta saudade, um dia de cada vez.


* Poetisa
Visita a Roswell

* Por Fernando Monteiro

Um objeto voador não identificado
caiu numa fazenda americana desolada,
no dia 2 de julho de 1947.

Os tripulantes estavam vivos?
Os tripulantes estavam mortos?

Havia tripulantes?
Havia nave?

A fazenda desolada havia,
identificada na paisagem?

O que havia de realidade
no dia 2 de julho de 1947,
na hora da queda de nada?

Havia a porta de um banheiro
público, com as seguintes palavras
arranhadas à faca entre as gastas
obscenidades de costume:

"É o inferno o céu
que ninguém conheceu".


* Poeta

domingo, 29 de maio de 2016

Literário: Um blog que pensa

(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)

LINHA DO TEMPO: Dez anos, dois meses e um dia de existência.


Leia nesta edição:

Editorial – Questão de interpretação.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica, “Veneno da vaidade”.

Coluna Direto do Arquivo – Celamar Maione, conto, “O corno pão-duro”.

Coluna Clássicos – Joracy Camargo, trecho de livro, “A lei Getúlio Vargas”.

Coluna Porta Aberta – José Ribamar Bessa Freire, artigo, “Temer: a pátria discriminadora”.

Coluna Porta Aberta – Paulo Melo Sousa, poema, “Operação Vobra Coral”.

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.
“Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal”Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br



Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk.As portas sempre estarão abertas para a sua participação.




Questão de interpretação


Estive raciocinando cá com meus botões: como nossos textos de hoje, nossos livros, nossas crônicas em jornais e revistas, nossos poemas postados em blogs, serão interpretados (e entendidos) pelos leitores do futuro, digamos, do ano de 2500 (caso sobrevivam, claro, e caiam em mãos de pessoas que vivam nessa época)?

Irão entender o que escrevemos? Sim, porque, provavelmente, a linguagem, então, será muito diferente da atual. Ou irão precisar de um novo “Champolion”, que descubra uma espécie de “pedra de roseta” dos nossos tempos, que possibilite a decifração dos nossos inúmeros alfabetos e cerca de 20 mil idiomas e dialetos que há pelo mundo afora neste século XXI?

Claro que estas reflexões não têm o mínimo sentido prático. Todavia, são ótimo exercício de imaginação. Portanto, por que não fazê-las? Muito do que escrevemos já não é interpretado como gostaríamos hoje, quanto mais num futuro remoto.

Por isso, defendo uma forma de se expressar simples, despojada e direta que, sem perder a elegância que se requer de um literato, seja entendida por todos os que forem alfabetizados, não importando seu grau cultural e nem quantos diplomas colecione (se inúmeros ou se nenhum).

Ainda assim, não há a menor segurança de que nossos anseios, desejos, temores, esperanças, certezas etc., contidos em nossos textos, venham a ser minimamente compreendidos pelos eventuais leitores do futuro.

Tenho em mãos um romance, escrito por Walter M. Miller Jr., lançado no início dos anos 60 (e que não chegou a fazer grande sucesso), intitulado “Um canto para Leibowitz”, que ilustra a caráter estas considerações.

O enredo apresenta monges de determinada ordem religiosa (que não tem absolutamente nada a ver com as atuais), que, encerrados em um mosteiro, copiam fielmente e conservam com o máximo zelo textos científicos, que sobraram de uma guerra nuclear que pôs fim a uma civilização.

Como não entendem os conceitos expostos nesses livros, que coletaram nas raras bibliotecas não incendiadas, atribuem-lhes um significado divino, sagrado, mágico, transcendental. Os monges em questão já são da terceira ou quarta geração dos sobreviventes da hecatombe nuclear. Não têm a menor noção do que estão copiando. Sabem, através dos mais velhos, do desastre que se abateu sobre a Terra, mas desconhecem sua causa.

Um dia, porém, surge um desses gênios, que nascem em quantidades ínfimas a cada geração, com nível de compreensão inexplicável, mas bem acima da média, maior do que a maioria. Ele lê, entende e interpreta a documentação científica copiada pelos diligentes monges da ordem de São Leibowitz.

Alguns desses textos explicam (e detalham) como se poderiam fabricar bombas atômicas (cuja fabricação, aliás, nem é tão complicada assim. Não faz muito, circulou na internet a “fórmula” de produção desses artefatos perigosíssimos, cuja “utilidade” é apenas o extermínio em massa de populações). E, com a interpretação dos textos, supostamente sagrados, mas que na verdade eram profanos e mais, sumamente malévolos, a Terra voltou a ficar em perigo.

Quem quiser saber o desfecho desse romance, que o procure em algum sebo e o leia. Não serei eu o estraga-prazer de ninguém. O que quero ressaltar é o caráter de permanência dos nossos textos. Depois de escritos, e publicados, são como filhos que deixam o lar paterno a perambularem pelo mundo.

Perdemos a ascendência sobre eles e, não raro, até o contato com os mesmos. Podem se tornar líderes revolucionários, condutores de povos para a liberdade, solidariedade e justiça, ou perigosos e sanguinários bandidos, especialistas em violência e destruição. Quanto aos textos, nunca sabemos em que mãos, e quando, irão parar. E isso multiplica, claro, a nossa responsabilidade ao infinito. Pense nisso.

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk