quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Natal


* Por Ricardo Alves


Em primeiro lugar, deixem-me dizer-vos que esta é a primeira crônica que vos apresento que não foi previamente escrita em papel ou pensada de todo. Digamos que simplesmente está a escorrer pelos dedos. Estamos na altura do Natal e, como todos sabemos, é uma época festiva, cheia de doces e prendas e neve e tudo mais. Toda essa magia natalícia paira no ar.

Pessoalmente, já lá vão os tempos em que o Natal era, para mim, uma altura de euforia. Não pelo fato de ter crescido e efetivamente terem deixado de abundar, a todo o custo por parte dos pais e restante família, as prendas. O Natal para mim deixou de ser uma altura de euforia porque passou a ser, sem sombra de dúvida, a altura mais hipócrita do ano, ou pelo menos a altura do ano em que a hipocrisia do mundo e das pessoas realmente sobressai. Digo isto porque o Natal tornou-se uma altura tão banal que apenas é conhecido pelo seu sentido comercial. Vêem-se muitas luzes, muita alegria, muitas promoções, muita intenção de compra, muito dinheiro gasto, muita prenda que passeia nos sacos. É nesta altura que muita cara conhecida aparece em frente às câmaras a dar de comer aos sem-abrigos e a todos os desfavorecidos. Isso é muito bonito, de fato, mas o que é certo é que nos outros meses do ano, são perfeitamente capazes de passar por eles sem sequer olharem. Essa sim é a realidade.

Perdeu-se também, com o tempo, o sentido de união da família e da alegria na sua forma mais simples: apenas pelo fato de estarem todos juntos, debaixo do mesmo teto, a sorrir e a cantarolar, pelo puro prazer de estarem ali, a celebrar o Natal no seu verdadeiro significado.

É por isso que eu deixei de me importar com o Natal e passei a encará-lo como um dia como todos os outros. Prefiro ser um pouco anti-social, ou mesmo "contra-natura" do que participar nesta hipocrisia social.

No entanto, posso dizer que senti um pouco do espírito de Natal há alguns dias, quando estava a jantar com um grupo de Amigos, os meus Amigos Saramaguianos, com quem me encontro praticamente todos os mesmos. Ali sim senti-me integrado num espírito de família. Senti que ali se estava a celebrar o Natal, porque estávamos juntos só pelo prazer de estarmos ali, de podermos conversar, podermos rir, brindar. Pelo puro prazer de nos encontrarmos e de partilharmos histórias da nossa infância e de passarmos umas duas horas de um valor incomparável.

Encontrei, portanto, ali, naquele lugar, àquela hora, com aquelas pessoas que me são muito queridas, um significado para o Natal, como há muito havia perdido.

Queria partilhar este episódio convosco e aproveitar para vos desejar um Santo e Feliz Natal, ou o que resta dele, pois já estou um pouco atrasado. Que seja um dia bem passado, na companhia da vossa família, seja ela quem vocês tenham escolhido. Que se divirtam e aproveitem a companhia alheia, para terem mais um momento para guardar na vossa memória como um bom momento, um momento sincero e puro, verdadeiramente mágico...verdadeiramente natalício.


* Escritor português.

Nenhum comentário:

Postar um comentário