quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Virtual à moda antiga


* Por Ana Suzuki


Não esperei pela internet para ter amigos virtuais. Cultivei-os através dos correios, de telefonemas, de programas de rádio, de todos os meios disponíveis. Uma das razões disso é que sempre tive coluna em jornal pequeno, de qualquer cidade em que estivesse morando, de modo que meu nome se tornava familiar para pessoas de todas as classes sociais, que me escreviam ou telefonavam repetidamente.

Veio também a fase do rádio. Os locutores punham meus telefonemas no ar e os ouvintes me ofereciam músicas, que eu ia retribuindo e cada vez conhecendo mais pessoas, com as quais me habituava como se as conhecesse de fato.

E também trabalhei numa agência de empregos. Patrões e patroas telefonavam para xingar-me pela porcaria de empregados que eu lhes arranjava, mas acabavam estabelecendo amizade comigo, porque eu não era dona ou fundadora nem professora de nenhuma escola profissionalizante. Meu telefone virou um confessionário.

Enfim, de um modo ou de outro, sempre tive amigos que só conheci pela letra ou pela voz, raramente pela fotografia. Aqui em Campinas as coisas se tornaram um pouco mais complicadas.

Eu tinha coluna no maior jornal da cidade, porém um jornal grande não é lido em todos os seus cadernos nem por todas as pessoas, de modo que me arranjei melhor em jornais de língua japonesa, editados em São Paulo.

Esses jornais tinham sempre uma página em português e era nessa página que eu dava aulas de haicai para nisseis, promovia concursos e acabava arranjando amigos que, muitas vezes, eu acabava conhecendo e cultivando na vida real, principalmente entre os jornalistas.

* Escritora e acadêmica da Academia Campinense de Letras.



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