quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Rompante desnecessário

* Por Luiz de Aquino


A sociedade anda mal: omissa, alheia, depressiva, arrogante, desinteressada, rude, pagã, mal-educada... E esse é o resultado do mal-estar que assola os indivíduos da espécie – insegurança, medo, desconfiança, avareza, egoísmo, mesquinhez... Obviamente que há grupos organizados com grandeza de propósitos, grupos esses em que, felizmente, predomina o afã pelo bem-fazer, pelo desejo de interação e a força da solidariedade – princípios esses que norteiam a caridade (não a caridade soberba de quem apenas oferece esmolas, mas de quem quer ver a melhoria latente em cada semelhante).

O ser humano, aqui e alhures, perdeu o discernimento, não se constrange por ser medíocre e não se peja por ser apanhado em mentiras, haja vista o tom dominante nos meios em que o dinheiro e a política – as mais expressivas faces de poder – regem os destinos de quase todos.

Tem sido assim nas campanhas políticas dos três níveis de governos, no Brasil, nas relações interpartidárias da velha Europa, nos comitês esportivos que “fazem chover” nas Copas do Mundo e nos Jogos Olímpicos. E foi assim nas mais recentes campanhas políticas em quase seis mil municípios brasileiros, mas nada como se soube, se viu e se leu quanto à sucessão de Barack Obama, nos “isteites”.

A América (o país) parece bastante familiarizada com as falsetas praticadas por Republicanos e Democratas. Suas campanhas lembram grandes encenações, eventos do faz-de-conta holyoodiano (engraçado isso de se produzir uma palavra com a raiz da língua inglesa finalizada por sufixos do nosso bom e familiar português). – Uma pantomima!

Volto aos nossos cenários o ambiente brasilis, com os flagrantes das falsetas da campanha presidencial de 2014. Aprendemos naquelas várias séries de fatos, de ambos os pretendentes ao Palácio do Planalto, que não se constrange mais quando se é flagrado em mentiras que não convencem sequer uma folha de papel em branco, onde nós, escribas, forjamos emoções, criamos personagens e fatos, inventamos verdades (sim, porque criar verdades é ofício de autores literários, roteiristas e teatrólogos, mas os políticos têm nos suplantado nisso).

E surgem Cunhas, Renans, Jucás e Falcões a lançar na mídia – essa mesma que eles dizem odiar e culpam-na pelas mazelas que deles somente noticiamos – suas bravatas inaceitáveis pelos ouvidos que formam a opinião pública, mas que se unem às más intenções de seus pares e essas safadezas acabam se tornando leis, que o Judiciário se vê obrigado a aplicar.

Talvez estimulado pelos maus exemplos do presidente do Senado, o alagoano Renan, o secretário goiano da Segurança Pública insurge contra ações da Polícia Federal que quis ouvir policiais suspeitos de formar e integrar grupos de extermínio o que o dr. José Eliton desmente com firmeza e fervor. Tudo bem, pode não haver grupos – mas há pessoas exterminando pessoas, mas as polícias estaduais não sabem quem são as que exterminam (sabem, sim, quem são os mortos).

Reação como aquela de veemente defesa de um oficial sob suspeita constrange-nos – a nós, goianos, que nos empenhamos por demais em melhorar esta terra, esta sociedade e a nossa imagem, tão avacalhada lá-fora. Recordo-me do ministro Henrique Hargreaves, da Casa Civil do presidente Itamar Franco, que se desligou espontaneamente do cargo para permitir a livre investigação.

O coronel comandante do Policiamento da Capital, pelo que se sabe, foi absolvido em alguns processos, mas outros há em andamento. Imagino que seja do interesse dele responder – e livrar-se – das demais suspeitas, sim! Mas a defesa ostensiva, com tom de mero corporativismo, isso não cai bem na opinião pública, sobretudo quando a nação em peso deposita esperanças na Polícia Federal com uma das principais ferramentas para se limpar as instituições públicas.

Torço, como bom goiano e bom brasileiro, para que os nossos policiais militares indiciados pela Federal provem inocência e reassumam seus postos, precisamos muito deles. Mas gostaria de ver as autoridades de nosso Estado contribuindo para essa tão sonhada depuração. Ainda que haja, em todo grupamento humano – e as instituições policiais não estão isentas – uma faixa de 5% de profissionais incorretos, tais instituições merecem nosso respeito, sim, e espero que não se detectem mesmo grupos de extermínio em nossas polícias.

A defesa prévia, ao meu ver, não é um procedimento que vem engrandecer nossas autoridades.


* Professor, jornalista e bancário. Tem vinte livros publicados, está em dezenas de antologias de prosa e de poesia, presidiu a União Brasileira de Escritores de Goiás, é membro efetivo da Academia Goiana de Letras e de outras academias (de abrangência municipal).

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