sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Pílulas literárias 245

* Por Eduardo Oliveira Freire


EX-SURFISTA

Quando via uma onda em qualquer lugar, ficava encharcado. Todos se assustavam ao vê-lo molhado e ofegante de repente.

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ARREBATADOR

Gostava de ser feio, pois como nada vinha de graça, teve que usar a imaginação e a inteligência para conquistar os obstáculos. A natureza não deu a beleza, entretanto ele com sua conversa agradável e perspicácia seduzia a todos, principalmente, o público feminino. As diferentes mulheres eram desde patricinhas a intelectuais. Um dia, quando morreu repentinamente, amigos e suas ex-namoradas foram ao seu velório e observaram pasmados o corpo franzino e orelhudo. Mas, a imagem que construiu ao longo dos anos, viverá na memória das amantes e amigos.

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DEPRESSÃO

Desde menino, diziam-lhe para sempre ser simpático e feliz. Satisfazia as expectativas dos outros com a intenção de conseguir benefícios. Fez uma máscara sorridente que ocultava suas fases tristes e de angústia.  Um dia, desapareceu. A única coisa que encontraram foi a máscara sorridente sobre a cama e uma cratera enorme no quintal de sua casa.

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MESMO SONHO...

Está entre Romeu e Julieta, mas, não é um empecilho. Pelo contrário, o casal o beija e os três se tornam um só. Quando amanhece, percebe que o celular está em cima do travesseiro. Na tela, estão os dois juntinhos, porém, incompletos, já que ele não está na foto.

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INTIMIDADE

Durante muitos anos ele trabalhava numa biblioteca e tinha uma formalidade com o manejo dos livros. Observava a nova moradora da pensão que sempre esquecia a porta entreaberta. Ela lia diferentes livros na cama a cada dia e, muitas vezes, adormecia com algum entre os braços. O bibliotecário entrava com passos de anjo e, com muita delicadeza, retirava o livro dos braços dela.

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CAÇADOR

Era o melhor da região. Uma vez, o desafiaram a caçar o alvo mais difícil de todos, o que está dentro do seu interior. No primeiro momento, ficou enfadado com a perseguição. Entretanto, com o decorrer do tempo, começou a gostar da busca. Quando estava prestes a sobrepujar a presa, deixava-a fugir, para retornar à perseguição.

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* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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