terça-feira, 29 de novembro de 2016

Magritte "la magia nera"


* Por Eduardo Oliveira Freire



- Oi!

- Oi! Quem é você?

- Não me reconhece? Sou eu, a gente conversa constantemente na madrugada adentro em nossos sonhos.

- Como? Está equivocado, senhor.

- Poxa, no sonho é mais simpática. Não acredito que não se recorde de nossos papos sobre livros, viagens e filmes...

- Senhor, se não parar de me importunar, chamarei a polícia!

O homem a pegou pelo braço e a mulher gritou por socorro. A polícia veio e ela deu queixa na delegacia.

Quando foi dormir, sonhou com uma mulher igual a ela: “Desculpa incomodar seu sono, mas o rapaz que a abordou é um cara legal. Quando ele a viu, pela primeira vez, criou-me. Mas, sou um ser com pensamentos próprios, não uma marionete. Gosto dele por livre e espontânea vontade. Por favor, retire a queixa! Juro que conversarei com ele e não vai mais incomodá-la!”.

A outra retirou a queixa, mas não gostou de ter uma versão igual na cabeça de um estranho. Queria ser a única e ficou tão agitada que não conseguia mais dormir. Resolveu ligar para o homem que a incomodou em busca respostas. No início, ele ficou com medo, mas, decidiu encontrá-la.

O homem lhe revelou o que dialogavam e ela se interessou pela sua réplica que vivia na mente dele. Começou a assimilar as características da outra e a medida que fazia isso, essa desaparecia da cabeça do indivíduo que assustou no primeiro momento.

Com o passar do tempo, tornaram-se amantes e a outra se acoplou nela, desaparecendo na cabeça dele.

A outra não lutou por sua existência autônoma, chorou silenciosamente.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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