domingo, 20 de novembro de 2016

Louvor à fidelidade

  
O maior prêmio que um jornalista, ao cabo de sua carreira, pode aspirar, quando tem consciência de haver realizado um trabalho honesto, competente e construtivo, fugindo da tentação do exagero, do sensacionalismo e da exploração barata das fraquezas alheias apenas por uma forte manchete que aumente a venda de jornais ou por uma boa "tirada", mesmo que venha a ferir a honra ou destruir a reputação de alguém, é a fidelidade manifestada pelos seus leitores. E sequer importa a quantidade deles, desde que sinceros, atentos e, sobretudo, críticos.

Não é uma polpuda conta bancária que importa a quem faz do jornalismo missão de vida e não mera profissão. Nem a prestação de serviços aos maiores grupos jornalísticos do País, ou quiçá do Exterior, ocupando pomposos cargos de chefia e ostentando o tão almejado "poder", invariavelmente transitório e sumamente enganador. É possível realizar um trabalho de primeiríssima linha também na chamada "imprensa nanica", nos jornais de bairros, de empresas ou de sindicatos, desde que se tenha talento, criatividade, cultura e, sobretudo, bons propósitos, e conquistar, dessa forma, cativos e fiéis leitores.

Essa desejada fidelidade, todavia, não se obtém com dois, quatro, dez ou cem textos, por mais excelentes e especiais que sejam, mesmo que beirem à perfeição. É questão de tempo, paciência e aplicação. É conseguida, somente,  com grandeza de alma, com espírito altruísta e  compreensivo, com genuína bondade e com profundo e sincero amor pelos semelhantes. E, claro, com anos e mais anos de trabalho constante, persistente, responsável e dedicado.

O tribuno e filósofo romano Cícero escreveu a esse respeito: "Haverá alguma coisa mais doce do que ter alguém com quem possas falar de todas as tuas coisas, como se falasses contigo mesmo?". No meu caso, como não sou orador, e nem dado a fazer confidências pessoais, o texto foi, é e será, enquanto eu viver, meu grande e sublime instrumento de comunicação com os semelhantes.

Ao longo de uma carreira acidentada, caracterizada por altos e baixos, submetido ao julgamento diário de chefes raramente complacentes e compreensivos (na maioria das vezes, severos além da conta, com o único objetivo de imporem uma autoridade que sequer possuíam, posto que imposta pela força e não pela ascendência moral ou intelectual), tive, como contrapartida, um raro privilégio, buscado pela maioria, senão pela totalidade dos jornalistas, e conseguida por pouquíssimos: a credibilidade junto aos leitores. Fui prestigiado com a aceitação crítica das minhas idéias, que muitas vezes mereceram, é verdade, reparos e restrições, mas cuja honestidade e sinceridade jamais foram questionadas por ninguém, nem pelos meus mais ferrenhos adversários ou esquivos rivais. E consegui conquistar, sobretudo, fidelidade.

Refiro-me, especificamente, ao que chamo carinhosamente de "meu público", que são aqueles que me vêm acompanhando, assiduamente, nestes tantos anos em que tenho o privilégio e a honra de ocupar vários espaços nobres nos meios de comunicação. Nestes  quase cinqüenta anos em que pude manifestar minhas alegrias, tristezas, idiossincrasias e indignações, sempre contei com pessoas amigas, muitas (a maioria) sem nunca me terem visto uma única vez sequer, me conhecido pessoalmente ou falado, em qualquer ocasião, comigo, que me elogiaram, criticaram, ensinaram, aprenderam e me manifestaram, senão de viva voz, pelo menos por cartas e, sobretudo por e-mails, sua generosa e compreensiva apreciação do meu trabalho. E isso não há dinheiro, não há poder e não há prestígio que paguem!

Nunca tive a pretensão de ser o dono da verdade (ninguém é) ou de buscar a fama fácil e enganadora, tendo o jornalismo por instrumento. O que sempre pretendi, e pelo retorno obtido penso haver conseguido, foi travar um bate-papo descontraído, informal e sincero, sequer escondendo minhas carências ou fraquezas, mas, sobretudo, construtivo, com os meus queridos e preciosos leitores. Mesmo havendo conquistado, nos dois jornais diários de Campinas, prestígio e respeitabilidade como comentarista político (em especial de política internacional, função que exerci, diariamente, por onze anos consecutivos), optei, há já bastante tempo, por outro gênero, mais ameno, porém não menos profundo: a crônica.

E agi assim não por menosprezar a cultura, a inteligência ou o grau de informação dos leitores. Pelo contrário. Foi por respeito. Foi por gratidão. Foi por estima. Afinal, ao contrário do que a maioria esmagadora dos jornalistas tenta passar, nas entrelinhas dos seus textos, a realidade, embora dura, horrenda e cruel, não se constitui, apenas, de desgraças, lamúrias, ácidas críticas, crimes hediondos,  profundas degradações e asquerosa corrupção. Há que se ressaltar, sempre que possível e oportuno, o lado bom, nobre e construtivo do ser humano, até para que se possa despertar nas pessoas o desejo de emulação, de imitação e de multiplicação dos valores marcantes e indestrutíveis do homem.

Tive, tenho e sempre terei por lema, nos próximos anos (se Deus permitir-me essa ventura de contar com muitos) de contato com meus fiéis e queridos leitores, uma sábia e inspirada constatação do Monsenhor Augusto Dalvit, que diz: "Comunicar não é apenas exprimir idéias ou manifestar sentimentos. No seu mais profundo significado, é doação de si mesmo, por amor". Muito obrigado a você, que me acompanha há tanto tempo, pelo prestígio e pela irrestrita fidelidade manifestados nestes anos todos de profícua troca de energia! A você, meu leal e incógnito companheiro,  me dôo, a cada texto que escrevo, com profundo e infinito amor!

Boa leitura!

O Editor.    


 Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Um comentário:

  1. Quem escreve nem sabe bem porque faz isso, mas é uma espécie de obrigação sem a qual a vida perde muito do seu sentido. Como leitora frequente, digo presente. Eu estou aqui.

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