quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Elegia à despedida


* Por Ione Jaeger


1949, cinco de fevereiro
sábado, dezesseis horas.
De mansinho o Itaité zarpa do porto.
Exala no ar o perfume da maresia e
mãos vicejantes agitam o adeus,
lágrimas cristalinas vertem nas faces
Um cheiro gostoso de viajar povoa o convés,
a magia da despedida pulsa no horizonte,
ondas marulham no casco
em cumplicidade com o balanço das águas.
Máquinas engrenam a partida
O cais empurra o navio
A distância se alarga
A Baía de Todos os Santos
abre os braços para a separação
Colhem-se os últimos suspiros da tarde
Suave, de leve, a noite se acomoda
nas sombras e esconde o Mercado Modelo,
a Praça Cairu, o Elevador Lacerda,
a Praça de Sé...
Luzinhas piscam, piscam... São
  pirilampos fugidios, fugazes, tênues, mortiços...
Olhinhos luminosos – abrem, fecham!
A noite, em negrume,  envolve o Itaité mas
o céu em vigília, o mar em acalanto, adormecem
o adeus!
Despeço-me da minha terra natal.
Partir em direção a um jovem porvir...
Quarenta e seis anos,  Boa Terra!
Estás bela, moderna, jovem, fascinante...
E eu?!...

* Poetisa e escritora


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