domingo, 23 de outubro de 2016

Na Copa de 90


* Por Silvio Lancellotti


Viajei à Itália, em 1990, para a cobertura da Copa do Mundo, pela “Folha de S. Paulo”, com uma missão específica – grudar na seleção da Velha Bota, a quem todos consideravam favoritíssima ao título da competição. O meu trabalho, todavia, se iniciou bem antes de eu desembarcar em Roma.

Graças a uma cortesia do saudoso Ivan Siqueira, que freqüentemente me convidava a fazer frilas para a “Ícaro”, a bela revista de bordo da companhia, consegui um upgrade à primeira classe do vôo Varig que me levaria à terra dos meus ancestrais. Na espera, no Galeão, cruzei com Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, genro de João Havelange, presidente da FIFA, a entidade que organiza o futebol no mundo. Teixeira me pareceu tenso, bastante tenso. Conversava com dois jornalistas cariocas, que não me reconheceram de blazer, gravata e chapeuzinho Borsalino. Para justificar o upgrade, afinal, eu havia me trajado a caráter. Disfarçadamente, tentei perceber o que diziam, sem sucesso. Dentro do avião, porém, os comissários me acomodaram na primeira fila, numa poltrona solitária – e Teixeira e um dos seus interlocutores ficaram bem atrás de mim, na segunda fila. Redobrei a atenção, concentradíssimo.

Para a minha sorte profissional, assim que o aparelho decolou e os drinques iniciais circularam, Teixeira levantou a sua voz e desandou a falar mal de Sebastião Lazaroni, o treinador da seleção do Brasil – o treinador que ele mesmo colocara em tal lugar. Admitiu que fizera uma bobagem, chamou Lazaroni de falastrão, incapaz e até mesmo de burro. Ouvi tudo, a curtir um furo internacional. Mais: de modo a não desperdiçar qualquer frase, registrei o desabafo num gravador de bolso. Em Roma, mal me instalei em um hotel do Parioli, comecei a digitar, num lap-top, toda a transcrição da conversa. Que a “Folha”, já no dia seguinte, publicaria integralmente. Um escândalo, que o cartola jamais desmentiu. Quanto ao time de Lazaroni, morreu nas oitavas...

* Diplomou-se em Arquitetura. Trabalhou na revista “Veja” de 1967 até 1976, onde se tornou editor de “Artes & Espetáculos”. Passou por “Vogue”, agências de publicidade, foi redator-chefe de “Istoé”, colunista da “Folha” e do “Estadão”, fez programas de gastronomia em várias emissoras de TV, virou comentarista de esportes da Band, Manchete e Record, até se fixar, em 2003, na ESPN. Trabalha, além da ESPN, na Reuters, na “Flash”, no portal Ig e na “Viva São Paulo” e é sócio da filha e do genro na Lancellotti Pizza Delivery – site de Internet www.lancellotti.com.br.


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