domingo, 26 de junho de 2016

Meu desafio


* Por Pedro J. Bondaczuk


O “mundo informático”, o da internet, dos blogs e do twiter, pode influenciar na venda de um livro que não seja muito divulgado por outras mídias e torná-lo best-seller? Há algum tempo, eu acreditava que não. Cria que podia ajudar, sim, mas que essa ajuda seria ínfima. Hoje mudei de opinião.

E o que me fez agir dessa maneira? Respondo: foi a trajetória do romance “O tempo entre costuras”, da não faz muito desconhecida professora de filologia, a espanhola Maria Dueñas. Ela lançou seu livro em junho de 2009. Era justamente o de estréia e, portanto, tratava-se de “ilustre desconhecida” no mercado editorial. Nem ela acreditava, para dizer a verdade, no sucesso da sua obra. Tanto que, para lançá-la, procurou uma editora pequena, o selo “Temas de Hoy”, que colocou à venda incipientes três mil exemplares.

Os meios de comunicação ignoraram, solenemente, o lançamento. Sou jornalista, já atuei na área de cultura e – me perdoem o que alguns podem classificar de falta de ética, mas não é – constatei que na editoria encarregada de tratar de livros de praticamente todos os jornais, a esmagadora maioria não entende “chongas” de literatura.

Mantive inúmeras discussões a respeito nas várias redações pelas quais passei. Pude comprovar, por exemplo, que os encarregados de comentar as novas obras que chegam ao mercado editorial, se limitam, no máximo, a ler a “orelha” das obras que se propõem a resenhar.  Aí não dá, não é mesmo?! E não se trata de exagero meu.

Pois bem, como eu ia escrevendo, a imprensa espanhola ignorou “O tempo entre costuras”. Mas os usuários da internet não ignoraram. Tudo começou na base dó boca a boca – como estou fazendo com meus dois últimos lançamentos, “Cronos e Narciso” (crônicas) e “Lance Fatal” (contos). Uma pessoa leu e recomendou o romance de Dueñas para outra, que por sua vez recomendou a uma terceira e assim por diante. Logo, já havia centenas de leitores que haviam lido o livro. Mas a corrente, ainda assim, continuava crescendo.

Aos poucos, começaram a surgir comentários (favoráveis, claro, porque a obra é muito boa) em blogs. E estes foram se multiplicando, se multiplicando e se multiplicando, e em progressão geométrica. Sem nenhuma participação da imprensa, em cerca de um mês, a edição original, de três mil exemplares, se esgotou por completo. Veio a segunda, que vendeu mais rápido ainda. Foi quando a editora Planeta, a dona do selo “Temas de Hoy”, teve a intuição de haver encontrado a “arca do tesouro” e decidiu usufruir dela. Foi lançando edição após edição do romance de Maria Dueñas. E estas logo sumiam das prateleiras das livrarias. Foi só então que a grande imprensa acordou de sua letargia e se deu conta do fenômeno editorial. Que mancada dos jornalistas!

Com pouco mais de um ano do lançamento original, aquele pequenininho a que ninguém deu a mínima (a não ser os usuários de computador), esgotou, pasmem, 25 edições!!! Vendeu a “bagatela” de 550 mil cópias!!! E mais, editoras de 20 países compraram os direitos de reprodução, sendo oito de língua espanhola e doze de outros idiomas.

Maria Dueñas, que por causa dos meios eletrônicos de comunicação foi “catapultada”, subitamente, do ostracismo à fama, é doutorada em Filologia Inglesa e professora titular da Universidade de Murcia, tendo lecionado antes em diversas universidades norte-americanas. Pode, se quiser, mandar o magistério às favas quando lhe der na veneta. É celebridade mundial, fenômeno editorial, best-seller não só na Espanha, mas já extrapolando fronteiras. Tanto que seu livro foi lançado, em 2010, no Brasil (onde, tenho certeza, também venderá uma infinidade de exemplares, se é que já não vendeu).

Não querendo me comparar a ela (mesmo já me comparando), pergunto: se ela pôde obter tamanha façanha, valendo-se apenas de amigos da internet (pelo menos no seu início), por que também não posso? Vocês são tão dinâmicos (ou mais) do que os internautas espanhóis! Por isso, não vejo a hora do primeiro dono de blog comentar “Lance Fatal” e “Cronos e Narciso”, mesmo que o comentário não seja favorável (no que não acredito, pois boto fé no meu taco). Até agora, infelizmente, ninguém comentou. Mas...

Claro que não estou contando com trajetória sequer parecida com a de “O tempo entre costuras”. Não conto com 25 edições esgotadas. Umas dez (de cada livro) já me deixarão mais do que contente. Ah, e nem precisa editora de nenhum outro país publicar minhas obras. Contento-me em ser um escritor meramente local, se não regional. Uma venda de 20 mil exemplares de cada já significará que vocês têm, de fato, enorme influência neste imenso “oceano” da internet.

Percebo, em conversas que mantenho com vários blogueiros, que eles ainda não têm noção da imensa força que têm. Subestimam a capacidade de penetração dessa utilíssima ferramenta. Ora, o Brasil é o sexto país do mundo em número de usuários de internet. Se os donos de blog quiserem, convencem, com um pé nas costas, até esquimós a comprarem geladeiras, quanto mais seus leitores a adquirirem dois livros baratinhos, como os meus. Maria Dueñas conseguiu se tornar best-seller apenas com a ajuda dos blogueiros, sem a participação da imprensa. Certamente levarei bem mais tempo do que ela (já estou tentando há seis anos), mas tenho certeza que conseguirei também. Vocês topam encarar esse desafio?


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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