domingo, 19 de junho de 2016

Geração em débito


A presente geração de escritores deve, ainda, a produção de uma obra literária marcante, consistente, instigante, dessas que, finda a leitura, nos levem a exclamar, entusiasmados e convictos: “merece o Prêmio Nobel de Literatura!!” (ou o Pulitzer, o Goncourt, o Cervantes ou outra qualquer premiação relevante).

É possível, até, que essa obra-prima já tenha sido escrita – na Austrália, Nova Zelândia, China, Azerbaijão, Rússia, Suécia etc. ou até mesmo aqui no Brasil – e falte, apenas, ser traduzida para várias línguas e amplamente difundida. Meios de difusão, atualmente, é que não faltam. Claro que há essa possibilidade.

Pode ser que sequer essa obra fenomenal tenha sido publicada ainda. É possível (não sei se provável) que os editores estejam “comendo mosca” e não a tenham identificado ou valorizado devidamente. Isso, não raro, acontece. O fato é que ainda não se vislumbra no horizonte a existência de algum livro excepcional, com essas características.

Não há indicações, por exemplo, de que haja sido escrito algum ensaio que sequer se aproxime da magnitude de um “Walden, ou a vida nos bosques”, de Henry David Thoreau. Ou reflexões como as de Ralph Waldo Emerson, ou de Will Durant, ou de René Descartes ou de tantos outros filósofos, sociólogos, psicólogos ou quejandos. Ou romances como “Crime e Castigo”, de Fedor Dostoievski, “Os miseráveis”, de Victor Hugo, “Guerra e paz”, de Leon Tolstoi, “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, do nosso Machado de Assis e vai por aí afora.

Não há poeta algum que se aproxime, sequer remotamente, de Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Walt Whitman, Rainer Marie-Rilke, Bertolt Brecht, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Jorge Luís Borges, Octávio Paz e tantos e tantos outros grandes astros do verso. Convenhamos, esta geração de escritores está em débito com a Literatura e com os leitores.

Em nenhuma outra época da história houve tamanha facilidade de acesso à informação e ao esclarecimento. Jamais houve uma profusão tão grande recursos para se escrever e difundir textos. O computador, por exemplo, favorece uma escrita cômoda, rápida e, sobretudo, limpa, sem a necessidade de mil rasuras e nem de desperdício de papel.

A internet possibilita a leitura de qualquer clássico, bastando conhecer o link da biblioteca que tem o livro pretendido, devidamente digitalizado. Além disso, temos a televisão a cabo, trazendo à nossa casa todo o tipo de programas, filmes e documentários, com uma infinidade de informações (úteis e inúteis, não importa), suscitando toda a sorte de reflexões..

Ainda muito recentemente, no início da década de 50 do século XX (mais especificamente, no seu primeiro ano) contávamos com um único, solitário e pioneiro canal de televisão, a Tupi (que há muito sequer existe mais). Hoje, com o advento das antenas parabólicas, temos 600 ou mais à nossa disposição.

Emissoras como a National Geographic, The History, Discovery Science, Discovery Travel, Discovery Civilizatuion e tantas e tantas outras, trazem à baila tudo de tudo. Será que ninguém se inspira nessa variedade de temas para aprofundar o que já se conhece e se fez e escrever algo, de tamanha qualidade, envergadura e relevância, que supere em criatividade tudo o que já se fez? Definitivamente, esta geração de escritores está em débito.

Vocês imaginaram se um Balzac, um Hugo, um Baudelaire, um Valéry e tantos outros gênios literários, tivessem acesso aos recursos de que dispomos? O que não poderiam haver produzido?! Não que eles não tenham legado à humanidade obras que podem ser consideradas eternas. Muito pelo contrário!

Dispondo de escassíssimos meios de informação e de produção, esses escritores geniais nos presentearam com as preciosidades que hoje nos encantam, nos ilustram e nbos causam pasmo e admiração. Caso contassem com as facilidades que contamos, desconfio que produziriam maravilhas ainda mais miraculosas e fantásticas.

Por melhores que possam ser os argumentos em defesa da atual geração de escritores, queiram ou não, discordem ou concordem, ela está em débito com o seu tempo. Deve uma obra consistente, original e maiúscula.

Quem sabe você, que neste momento torce o nariz a estas observações, considerando-as inoportunas, impertinentes, sacrílegas, tolas e até chulas, não será o sujeito que fará esse resgate e construirá essa obra consistente, genial e a salvo de quaisquer reparos?! Quem sabe... Em vez de perder tempo com críticas e rabugices, que tal arregaçar as mangas, deixar de lado a obsessão da atual geração pelo lazer e a alienação e começar a produzir? Que tal? Você pode!!!

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk


  

Um comentário:

  1. Precisando parar tudo para ler os livros eternos, que requerem leitura lenta, penosa, com idas e voltas, e até leitura em voz alta. Melhor fazer isso já, enquanto posso ler. Amanhã, quem é que sabe?

    ResponderExcluir