sábado, 21 de maio de 2016

Amor casual


* Por Aliene Coutinho


Eles se encontravam uma vez por semana. Sempre em restaurantes badalados para não levantar suspeita. Conversavam horas sem tirar os olhos um do outro, mas não podiam se tocar. Ana e Pedro eram casados, mas com outras pessoas. Conheceram-se no prédio que moraram por dois anos. Foram vizinhos. E como vizinhos mantinham um relacionamento superficial, de cumprimentos rápidos e pequenas gentilezas, como segurar o elevador para o outro entrar, ou ficarem apenas os dois contra todos os outros moradores nas reuniões de condomínio por pura solidariedade.

O primeiro contato de verdade foi no dia da mudança de Pedro. Com a desculpa de que estava colocando o apartamento à venda, tocou a campainha do apartamento dela, sorriu, e passou o telefone num pedaço de guardanapo. Pediu também o dela, afinal podia precisar para saber sobre os possíveis interessados. Passados dois dias, o telefone de Ana tocou. Era meio-dia. Ela não reconheceu o número e atendeu com o maior desdém – deve ser engano – pensou. Era ele, convidando-a para almoçar.

E ela foi curiosa, como toda mulher, para descobrir o que aquele gato, muito mais novo, queria. E ele não se fez de rogado, de cara falou o quanto a achava interessante, e de quanto ele desejara aquele momento, adiado muitas vezes por medo de uma reação contrária. Não escondeu o tesão que sentia, e contou sobre  todas  as vezes que ouvia a voz e o sorriso dela através das paredes, que percebia seus passos na sala ao lado,  sabia até  quando ela entrava no banheiro e ficava horas no chuveiro. Ela teve de admitir que havia percebido os olhares, mas sempre pensou que tudo era uma brincadeira.

Ele era dez anos mais novo, recém-casado. Ela já tinha filhos e muita história pra contar. Enfim, como se explicam essas coisas? Depois do primeiro almoço vieram outros que se repetiam sempre às quartas. De vez em quando trocavam de restaurante, e também de motel que era onde sempre os encontros acabavam. Passavam a tarde se amando feito bichos, sem compromisso, sem promessas, eles sabiam um da vida do outro e sabiam que estavam ali pelo prazer, sexo por sexo, nada que os fizessem sequer pensar no fim de seus casamentos  que eles juravam serem quase  perfeitos.

Viviam assim, marginais, mas sem remorsos, ou culpa. Até se ajudavam nas crises conjugais. Lembravam personagens de filmes e de peças teatrais. Seria possível um amor assim? E como acabaria? Fiz essas perguntas a Ana que me confidenciou essa história entre muitos pedidos para guardar segredo. Nem ela, nem Pedro estão preocupados com o que vai dar. Querem manter o que sentem, sem interferir em suas vidas familiares.

Enfim, os nomes são fictícios, acrescentei alguns pontos, mas não desvirtuei a essência que é a possibilidade de existir um amor assim...carnal, casual,  descompromissado, sem o estresse das contas a pagar, das responsabilidades a cumprir – que muitas vezes acabam os casamentos.  O caso deles já dura quatro anos e eles vão muito bem, obrigada!    

* Jornalista, professora de Telejornalismo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário