terça-feira, 15 de março de 2016

Histórias secundárias

* Por Eduardo Oliveira Freire


Não era bela, como diziam. Os pais falavam que cuidaria deles, já que ninguém casaria com ela. Seria uma troca por sustentá-la. Consideravam-na um fardo.

Um dia, quando o príncipe com seus soldados vieram a sua casa para descobrir a dona misteriosa do sapatinho de cristal, decidiu saltar no escuro. Era preferível se esborrachar a ficar inerte. O sapatinho não coube, mas o soldado que tentou calçá-lo no seu pé sorriu-lhe e se sentiu viva pela primeira vez.

Quando a Cinderela e o príncipe se casaram. Ela e o soldado fugiram do reino e foram morar num modesto sítio, herança dos pais do soldado.

Foram felizes na alegria, na tristeza, nos conflitos, nos momentos serenos, na doença e na saúde...

***

Quando Aurora espetou o dedo na roca e a maldição do sono foi executada, A. e B. encontraram-se através dos sonhos e puderam se entregar ao desejo. Quando o príncipe matou o dragão e desfez o feitiço de Malévola, ao beijar a princesa adormecida, todos do reino ficaram felizes. Menos os amantes, já que eram comprometidos com seus cônjuges e filhos.

***
Quando Branca de Neve se casou com o príncipe, todos se esqueceram da morte trágica da Rainha Má. Mas, um corvo sempre visitava o penhasco onde ela caíra e a visitava todas as manhãs, apesar de ter sido reduzida a um amontoado de ossos. A ave era uma bela princesa que a Rainha enfeitiçou por inveja. Mas, a jovem, transformada em corvo, ao invés de odiá-la, sentia-se agradecida por ser libertada de um mundo rígido de convenções sociais. Era livre.



* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


Um comentário:

  1. Nem sempre fácil de ser identificada, a vantagem anda lado a lado dos protagonistas.

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