domingo, 13 de março de 2016

Força de caráter



* Por Pedro J. Bondaczuk



Os educadores, constantemente, falam sobre caráter e da necessidade de formar no educando um que seja sólido e a salvo de qualquer abalo. Quando uma pessoa age contra princípios legais e em especial morais diz-se que ela não possui essa característica, essa estrutura, esse conjunto de virtudes que, se possuísse, seria modelo de comportamento a ser seguido. Alguns entendem que se nasce com essa excelência que a educação apenas consolidaria. Outros acham que não. Afirmam que o caráter precisa ser moldado com ensino e sobretudo treinamento. Como o homem é complexo e assustador! Um bebê, quando cresce, pode se transformar em um santo ou em um demônio. Em um São Francisco de Assis ou em um Adolf Hitler. É impossível prever como será quando adulto.

Caráter, em última análise, significa identidade, personalidade, distinção. No sentido que os educadores usam tem o significado de parâmetro de virtude, de modelo, de referencial. A esse propósito, James B. Stenson, professor da Universidade Georgetown de Washington observa: "Todos nós reconhecemos uma pessoa de caráter quando a encontramos. É o caráter que nos faz respeitá-la e admirá-la. Ao contrário do que muitos pais imaginam, porém, as virtudes que estruturam o caráter não se desenvolvem na vida dos filhos sem ajuda externa e por si sós. São necessários muitos anos de ensino consciente e de treinamento pratico para construir um caráter".

Discordo do mestre. Não nego o papel da educação no desenvolvimento desse conjunto de virtudes. O que contesto é sua exclusividade no processo formativo. Fosse como Stenson diz, hoje em dia teríamos pouquíssimas pessoas, (quase nenhuma) dotadas de caráter. Poucos pais foram instruídos nesse sentido quando jovens. E ninguém ensina aos outros o que não sabe. Só se dá aquilo que se possui. No entanto, seus filhos revelam-se, muitas vezes, detentores de excelentes virtudes. Alguns indivíduos que vêm de lares destruídos, que sequer merecem esse nome, ou que são gerados literalmente ao acaso, acidentalmente, sem nenhum amor e acabam rejeitados desde tenra idade, mostram ter um sólido caráter, embora se constituam em minoria.

Claro que os pais têm responsabilidade nessa formação. Mas os efeitos dos seus ensinamentos são limitados. Os adolescentes são mais sensíveis ao que aprendem na rua, na escola, na igreja etc., do que em sua casa. Acabamos sendo influenciados, às vezes decisivamente, pelo meio em que vivemos. Reagimos (para o bem e para o mal) muito em função das circunstâncias, do momento, das oportunidades. O que o indivíduo precisa é das informações básicas que o conduzam ao autoconhecimento. Somente se conhecendo estará capacitado a fazer a escolha do que entender ser o melhor para ele. Se errar, paciência. Será um fracassado e infeliz. Precisará ter um objetivo na vida, que lhe direcione as ações.

Concordo, no entanto, com Stenson quando aponta profundas falhas na educação ministrada na maioria dos lares. Destaca o professor: "Hoje, os pais pensam na carreira profissional dos filhos e nos meios educativos mais adequados para atingirem esse objetivo. Refletem pouco sobre as virtudes que os seus filhos devem possuir: o autodomínio, a força de vontade, a confiança em si próprios, as convicções religiosas, a obrigação de serem castos etc. Refletem pouco sobre como esses traços afetarão a estabilidade e a felicidade da futura vida conjugal dos seus filhos".

Aliás, nunca a instituição da família esteve mais ameaçada do que agora. O Papa a todo o instante tem se manifestado a este respeito. As pessoas perderam o senso de perspectiva. Valorizam o banal, o físico, o transitório, a satisfação dos sentidos em detrimento do importante, da razão, do permanente, da evolução espiritual. Daí serem tão infelizes, tão solitárias, tão carentes, tão violentas, tão perdidas e tão sem referencial de vida. Os objetivos que colocam à sua frente são vazios e imediatistas. Consistem, em geral, no acúmulo de bens (na verdade bugigangas descartáveis), na busca pelo poder (que nada pode, pois não livra ninguém da morte e, pelo contrário, a apressa) e na satisfação dos instintos, que após saciados deixam como subprodutos o vazio e a depressão. Daí a necessidade de valorização dos que têm caráter. E, principalmente, da imitação desses preciosos referenciais.


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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