terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O vale nazista

* Por Viegas Fernandes da Costa


Do banheiro azulejado de suásticas em um antigo casarão da Rua Hermann Hering, em Blumenau, à suástica na moderna piscina de uma residência agora revelada, está o nazismo que insiste em se manter contemporâneo

Então fotografaram a suástica gravada no fundo da piscina de uma residência, situada em uma pacata e insuspeita localidade do Vale do Itajaí? Muitos, ao verem a foto na coluna do Pancho, devem ter dado de ombros e murmurado “bem, eu já sabia”. Outros foram tomados pelo espanto, como que se lhes tivessem tirado a venda dos olhos. “Então ainda temos quem cultue o nazismo por estas bandas?” — perguntam-se. E a resposta, infelizmente, é sim, e não são poucos. Alguns, inclusive, lecionando em nossas escolas e defendendo na sala de aula teses como a inexistência do holocausto judeu e o caráter humanista da política de Adolf Hitler.

Não gostaria de me aproveitar do fato para gerar sensacionalismo sobre o assunto. Particularmente, preocupam-me principalmente aqueles que levam a suástica na língua e no interior do peito, do que estes que a afogam em piscinas. Receio, inclusive, que a divulgação deste tipo de imagem, considerando as particularidades da nossa região, estimula simpatias muito mais do que condena. Afinal, não é de hoje que o nazismo conta com apoiadores no Vale do Itajaí, muitos destes representantes das elites econômicas, políticas e intelectuais da região.

Há vários estudos sobre a influência e a presença do ideário nazista no Vale. A historiadora Méri Frotscher, no livro Identidades Móveis, explica que em Timbó provavelmente foi fundada a primeira representação do NSDAP (sigla do Partido Nacional-Socialista Alemão, comumente chamado de Partido Nazista) no exterior. Segundo Frotscher, já em 1928 o jornal local Urwaldsbote divulgava uma convocação para que os interessados em participar do NSDAP enviassem seus nomes. Em outro trabalho, publicado na edição especial da Blumenau em Cadernos de 2007, a historiadora cita o informativo do NSDAP de Blumenau intitulado Mitteilungsblatt, publicado entre 1933 e 1934, “que divulgava de forma agressiva os fundamentos do nacional-socialismo alemão, entre eles o antissemitismo”. Aliás, escritórios do NSDAP eram comuns nas regiões de colonização germânica.

Lamentavelmente aquilo que deveria estar apenas nas páginas da história persiste como um tumor em nossa sociedade. Do banheiro azulejado de suásticas em um antigo casarão da Rua Hermann Hering, em Blumenau, à suástica na moderna piscina de uma residência agora revelada, está o nazismo que insiste em se manter contemporâneo, não só na decoração do lar, mas principalmente nos discursos de superioridade e de segregacionismo tão comuns por aqui, e na violência simbólica e física que promovem.

Infelizmente a suástica na piscina é apenas a ponta de um horrível iceberg.



* Viegas Fernandes da Costa é escritor e historiador.

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